Com o avanço da tecnologia e da indústria farmacêutica, as pessoas que tinham dificuldades para dormir e sofriam de insônia ganharam um aliado: os medicamentos que ajudam no processo do sono. No entanto, especialistas da área da saúde no Brasil estão alertando para o alto consumo dos remédios e seus efeitos colaterais.
Segundo o médico Nilson Maeda, otorrinolaringologista e médico do sono do Hospital Paulista, os medicamentos Zolpidem, Zopiclona ou Eszopiclona, também conhecidos como ‘Drogas Z’, devem ser prescritos por profissionais e com cautela, considerando seus efeitos. O profissional reforça que os medicamentos são considerados mais seguros em termos de intensidades de seus efeitos, mas se utilizado de forma indiscriminada, pode levar à dependência química e a redução da eficácia no tratamento contra a insônia.
Com relação ao consumo dos medicamentos, o profissional reforça que no caso específico do Zolpidem, dados oficiais indicam um aumento significativo no consumo do medicamento. Segundo informações do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, administrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), houve um crescimento de 161% nas vendas do medicamento entre os anos de 2018 e 2022, o que representa cerca de 22 milhões de caixas vendidas em território nacional.
“As Drogas Z têm um período de ação mais curto e são consideradas mais seguras em comparação aos benzodiazepínicos, como o Clonazepam, Diazepam e Alprazolam, que eram utilizados nas décadas passadas, mas hoje não são mais recomendados para o tratamento da insônia. Isso se deve ao maior potencial dos benzodiazepínicos causarem dependência, síndrome de abstinência, aumento do risco de queda nos idosos, dentre outros efeitos indesejáveis. Ainda assim, as Drogas Z também podem causar dependência e tolerância quando utilizadas por longos períodos e em doses abusivas”, alerta o médico.
Tempo de uso de medicamentos é de apenas quatro semanas
Segundo Nilson, o tempo de uso de medicamentos é curto, mas muitos pacientes acabam prolongando o uso, o que ajuda no processo de dependência. Isso pode ocorrer porque os efeitos desses fármacos tendem a diminuir com o tempo. Ou seja, o cérebro se ajusta à presença do princípio ativo, aumentando ou reduzindo a sensibilidade dos receptores químicos.
“Por isso, com o uso contínuo, esses medicamentos vão perdendo o efeito e começam a exigir doses maiores, desencadeando a dependência”. Ele explica que o tempo recomendado para o consumo desse tipo de medicamento é de até quatro semanas. “Não recomendamos o tratamento da insônia somente com medicação indutora do sono”, enfatiza.
Recomendação é de tratamentos alternativos antes do medicamento
Antes de iniciar o procurar o uso de medicamentos para insônia, o recomendado por especialistas é buscar outros tipos de tratamentos alternativos. Segundo o otorrinolaringologista e especialista em distúrbios do sono, Lucas Padial, a origem da insônia deve ser bem investigada para direcionar um tratamento efetivo.
“O uso de medicações não é, cientificamente, a primeira opção para o manejo da insônia. Elas podem ser pontualmente utilizadas, especialmente em casos de insônia aguda, ou seja, aquela que dura menos de três meses”, ressalta.
Para pacientes que já fazem uso recorrente desse tipo de medicamento, o médico explica que o desafio é reduzir o consumo gradualmente. “O tratamento envolve diminuir a dose progressivamente, enquanto, paralelamente, são aplicadas medidas de higiene do sono, mudanças comportamentais e até o auxílio de outras classes de medicamentos (que não provocam vício)”, afirma.
Dessa forma, o desmame ocorre de maneira mais saudável. “Se as medidas forem realizadas corretamente, especialmente com a dedicação ativa do paciente, é possível abandonar o uso dessas medicações e restabelecer uma relação saudável com o sono”, reforça Lucas.