Saúde e Bem-estar

Entenda como são os primeiros anos de vida de criança traqueostomizada

Com o Dia Nacional da Criança Traqueostomizada, fonoaudióloga explica como funciona a terapia estimulante para as crianças que passam pelo procedimento para conseguir respirar e se alimentar

Neste sábado (18) é comemorado o primeiro Dia Nacional da Criança Traqueostomizada. Um procedimento cada vez mais comum realizado em crianças que têm dificuldade respiratória desde os primeiros momentos de vida, acarretando problemas para a alimentação pela boca.

Caso esse do Antônio Lorenzo, de 4 anos, autista, que está no fim do tratamento fonoaudiológico aqui em Boa Vista e muito perto de retirar o acesso de Traqueostomia (TQT). A criança precisou colocar a TQT com 40 dias de vida, devido à dificuldade para respirar pelo nariz, com isso passou muito tempo sem comer comidas sólidas. Atualmente, ele usa uma válvula de fala e uma sonda gástrica abdominal.

“Ele já passou por muita coisa, mas agora está mais tranquilo. Eu já aspiro de duas a três vezes, tem dias que eu nem chego a aspirar. Depois que ele começou a usar a válvula de fala, eu aspiro raramente a noite. Mas depois da Manoela, ele já consegue fazer alguma coisa, comer um docinho”, explicou a mãe do menino, Kacilene Lopes, que aprendeu a fazer a limpeza do TQT para poder ficar em casa, em vez do hospital.

Lorenzo foi o primeiro paciente da fonoaudióloga, Manoela Gomes, no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA). Ela atua no tratamento de crianças traqueostomizadas e ressalta como é o trabalho realizado com os pequenos pacientes.


Manoela atende crianças traqueostomizadas no HCSA. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“O trabalho da fonoaudiologia visa justamente restabelecer as duas funções: comunicação e deglutição. O fono trabalha muito a sensibilidade da musculatura orofaríngea, tônus, mobilidade, bem como o retorno da função de deglutição, porque os pacientes não conseguem ter deglutição, nem mesmo de saliva. Por isso que muitos deles usam a sonda para se alimentar”, explicou a fono.

No caso de Lorenzo, a especialista explica que ele tem uma válvula de fala porque está em fase avançada do tratamento, muito próximo de retirar a TQT, que só é possível quando o paciente já respira de forma fisiológica, pelo nariz e boca. O mesmo ocorre para a retirada da sonda, já que ele não precisa mais de ajuda para comer.

“Ele já faz as alimentações da manhã, meio-dia, lanche e jantar. É uma criança que evoluiu muito, tanto em quadro respiratório quanto de deglutição, e está a um passo já para a retirada de tudo”, disse Manoela.

Para a mãe, a criança foi um milagre pois, em um ano passado, Lorenzo apresentou uma grande evolução. “Eu vi meu filho desde bebezinho, já entubado. Logo falaram que não ia sair dessa, que não comia e, para mim, ele é o meu milagre. Tudo que eu quero na minha vida é ele”, destacou Kacilene.


Kacilene acompanha todos os passos de Antônio Lorenzo no tratamento. (Foto: Nilzete Franco)

A fonoaudióloga faz acompanhamento semanal com Lorenzo para realizar as atividades de terapia. São exercícios em sequência para praticar a ação de comer e respirar, “uma estimulação e para ele se reabilitar e seguir os acompanhamentos”, segundo a médica.

Dia Nacional da Criança Traqueostomizada
Em novembro do ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a Lei nº 14.249/2021, que instituiu o 18 de fevereiro como Dia Nacional da Criança Traqueostomizada. A data tem a intenção de conscientizar e explicar os cuidados necessários às crianças com esse procedimento no país.

Nesta data em 2017, houve o primeiro consenso nacional com recomendações para o tratamento de crianças traqueostomizadas, definido pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Célvico-Facial e pela Sociedade Brasileira de Pediatria. No documento, os pesquisadores apontaram as dificuldades dos profissionais de saúde em lidar com esta condição e uma falta de padronização dos cuidados.

A traqueostomia é um procedimento que pode ser feito em qualquer faixa etária, inclusive em crianças abaixo de um ano. Consiste na abertura frontal na traqueia do paciente para  levar o ar até os pulmões no processo de respiração.


Lorenzo tem sua traqueostomia desde os 40 dias de vida. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

*Por Adriele Lima