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Indígenas doentes bebem água direto do bebedouro em campus, e professores e alunos relatam preocupação

Sesai nega falta d'água na Casai Yanomami e UFRR diz estar à disposição do órgão de saúde, dentro do possível, para manter atendimento aos indígenas

Indígenas atendidos pela Casai têm buscado aliviar a sede diretamente nos bebedouros do Campus Cauamé (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Indígenas atendidos pela Casai têm buscado aliviar a sede diretamente nos bebedouros do Campus Cauamé (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Pacientes indígenas atendidos pela Casa de Apoio à Saúde Yanomami, em Boa Vista, buscam agua para aliviar a sede diretamente nas torneiras dos bebedouros do prédio público ao lado, o Campus Cauamé, da UFRR (Universidade Federal de Roraima).

A principal hipótese é de que a Casai estaria com problemas no fornecimento de água aos indígenas.

Na portaria da casa, um paciente indígena e um funcionário da Casai divergiram à Folha sobre a possível falta de água.

Enquanto o primeiro confirma a denúncia de estarem sem água, o outro nega e afirma que a falta d’água acontece apenas quando o problema afeta toda a cidade.

No campus, da UFRR testemunhas confirmam que os yanomami, a cada vez que o situação se repete, se aglomeram em torno dos bebedouros para armazenar água em baldes e garrafas, e até mesmo chegam a bebê-la diretamente das torneiras.

Doenças e Impedimento

Professores e estudantes justificam a preocupação ao citar o risco de doenças tratadas pela Casai se proliferarem pelo campus, ou mesmo os próprios indígenas se contaminarem com patologias dos usuários do campus. Por conta desse perigo, vigilantes têm buscado impedir os pacientes de ingerir água diretamente nas torneiras.

“Ali é um hospital de cura, onde existe doenças infectocontagiosas. Nós mesmos, em determinado momento, podemos contrair uma doença por falta de cuidado mínimo”, relatou o chefe do departamento de Fitotecnia do Curso de Agronomia, o professor Ozimar de Lima Coutinho.

“No momento, estamos vetando a entrada deles, não pelo fato da água – que não se nega ninguém -, mas o problema é que a presença deles aqui pode, muito bem, trazer ou levar pra eles também, algo que não se tem de doenças”.

Chefe do departamento de Fitotecnia do Curso de Agronomia da UFRR cita risco de proliferação de doenças com atitudes dos indígenas da Casai (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“Quase toda semana acontece isso, principalmente na segunda-feira. Os próprios guardas sabem disso, têm esses problemas com os indígenas, com a questão da água, que eles querem beber na boca. Muitos indígenas estão doentes lá. Os próprios alunos e professores também bebem da água daqui”, destacou, sob anonimato, um estudante de Agronomia da UFRR.

O que dizem Sesai e UFRR

Procurada, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde, limitou-se a negar a existência de problema no fornecimento de água na Casai Yanomami, seja encanada ou potável. A pasta não comentou sobre a razão da busca dos indígenas por água no Campus da UFRR.

Fachada da Casa de Apoio à Saúde Indígena, na zona rural de Boa Vista (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Por sua vez, a universidade esclareceu que não houve ordem sobre a proibição do uso dos bebedouros pelos pacientes da Casai e ressaltou estar à disposição para apoiar o órgão de saúde, dentro do que for possível, para manter o atendimento à população indígena.

“A Administração Superior da UFRR ressalta que, por se tratar uma instituição pública de ensino, a Universidade Federal de Roraima segue cumprindo seu papel de acolhimento em relação a comunidade externa que necessite de seus serviços institucionais”, destacou, em nota.