No Brasil, 90% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem com pessoas conhecidas pela vítima. Em meio a pandemia, que trouxe a necessidade de isolamento social, o risco para crianças se tornou maior.
Dados do Disque 100 mostram que, só no ano passado, foram registradas um total de 17.093 denúncias de violência sexual contra menores de idade. A maior parte delas é de abuso sexual (13.418 casos), mas há denúncias também de exploração sexual (3.675). Só nos primeiros meses deste ano, o governo federal registrou 4,7 mil novas denúncias. Os números mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na casa do abusador ou da vítima.
De acordo com a psicóloga e sexóloga Maíne Ferreira, o trauma sofrido pela adolescente vai além do físico. ” O número absurdo de violência não é uma exclusividade das mulheres adultas, e por isso é importante frisar a importância dos pais e responsáveis por essas crianças e adolescente. As vítimas e os pais deverão lidar com as sequelas psicológicas que um estupro pode causar” explicou.
Segundo ela, existe uma ruptura referente a quebra de confiança. “Um estupro ou abuso causa traumas gravíssimos às vítimas. E essas sequelas são ainda maiores quando se trata de crianças e adolescentes” reforça.
“Qualquer forma de violência deixa sequelas, agora a violência sexual tem consequências bem profundas nas vítimas, até porque o índice maior é entre mulheres jovens e crianças. Além de traumas como uma gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), o abuso também traz consequências pra saúde mental dessa vítima”, garante a especialista.
A psicóloga ainda alerta para os comportamentos que uma vítima de abuso pode adotar e quais as medidas que os pais devem tomar se notarem alguma conduta do gênero. “[As vítimas] podem desenvolver estresse pós-traumático, reviver cenas, mau sono, ansiedade, pânico, medo da morte, depressão, isolamento social e até suicídio. O que deve ser feito é imediatamente a denúncia, mas o principal é o tratamento psicológico e psiquiátrico, se for o caso, com medicação. E fazer que a pessoa lide bem com esse trauma, porque não se apaga, é conviver com essa cicatriz”, finalizou a psicóloga.
Ensinar as crianças
A psicóloga reforça que os pais são sempre os espelhos para o adolescente.Os pais devem sim conversar as crianças e explicar sobre os perigos, esclarecer sobre as partes íntimas, como identificar um abuso. Não podemos ter vergonha de educar as crianças com essa consciência”, diz.
“Infelizmente vivemos em um mundo onde as mulheres estão sempre suscetíveis a violência sexual, por isso a educação para que os filhos entendam que o perigo existe. Mas não adianta você ensinar algo, se não tem a mesma postura. Crianças e adolescentes que crescem observando os pais consumindo bebida alcoólica tendem a querer o mesmo. E a bebida alcoólica nunca deve ser consumida por menores de idade. De nada adianta proibir o adolescente de beber sendo que ela está constantemente observando o abuso do álcool pelos adultos” reforçou.
Sexualização precoce
A psicóloga também alerta para a sexualização precoce. A erotização infantil atravessa as etapas de desenvolvimento da criança e antecipa seus aprendizados, o que pode ser bastante nocivo
Os pais não devem incentivar as crianças, seja com perguntas ou como forma de entretenimento, a ter comportamentos que fazem parte do mundo maduro, como namoros e beijos na boca.
“Os pais devem compreender que não devem naturalizar certos comportamentos para os filhos pequenos, vamos proteger essas jovens e ensiná-los a se protegerem. ‘Devíamos ensinar a sociedade a respeitar as mulheres e puni-los ao rigor da lei!” Dirão todos! E eu concordo em gênero, número e grau, mas infelizmente não é algo q acontece no nosso país” lamentou.