Com crianças em casa, mães solteiras enfrentam dificuldades ainda maiores para cuidar dos filhos. E essa está longe de ser uma situação isolada, pois, no Brasil, 28,9 milhões de famílias são chefiadas por apenas uma mulher, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados em 2015 e 5,5 milhões de brasileiros não têm o nome do pai no registro de nascimento, segundo o Conselho Nacional de Justiça, com base no último Censo Escolar divulgado.
Essas mães se depararam com um desafio maior do que o da maioria dos brasileiros quando o coronavírus chegou ao país. Isso porque o tempo que cuidar de crianças demanda ficou ainda mais alto com escolas fechadas e aulas presenciais suspensas. Nesse cenário, elas, além de educar, assumiram também a responsabilidade de auxiliar com as aulas da escola e promover lazer dentro de casa por períodos mais extensos do que o que era comum.
As mães que puderam adotar o sistema de home office em seus trabalhos têm de acomodar os novos afazeres dentro do próprio expediente e do tempo que já gastavam com atividades de casa, como limpeza e higienização das roupas infantis – cuidado que agora também é redobrado. Apesar desse obstáculo, quando se olha com um recorte de cor e renda, a situação é ainda mais desafiadora.
Entre os domicílios compostos por mulheres negras com filhos de até 14 anos, 63% se encontram abaixo da linha de pobreza. Nesses casos, outra preocupação também cresce: o sustento da casa. O coronavírus causou a demissão de 7,8 milhões de brasileiros, de acordo com o IBGE – boa parte deles pertencente à classe mais pobre, já que não realiza funções que fossem adaptáveis ao trabalho remoto, como limpeza, atendimento e serviços de estética.
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Locomotiva, durante a pandemia, 35% das mães solo não têm renda suficiente para comprar alimentos e 31% não conseguem adquirir itens de higiene. Quase oito em cada dez tiveram a renda familiar reduzida devido ao Covid-19 e 54% já atrasaram o pagamento de contas.
O “Segura a Curva das Mães” é um dos projetos criados para auxiliar mulheres provedoras que estão em situação de vulnerabilidade durante a pandemia. A organização mapeia quem necessita de ajuda e faz a ponte entre instituições que já oferecem trabalhos de ajuda social e mães vulneráveis, além de arrecadar doações.
Uma das fundadoras do projeto, Thaiz Leão, explicou em uma live nas redes do Mandata Ativista que a realidade pode ser ainda mais complexa do que os números expõem, visto que as mães tendem a acumular responsabilidades sobre outros membros da família: “A gente [do “Segura a Curva das Mães”] dá essa especificidade, esse critério, que é olhar para a maternidade e entender a complexidade de cada experiência. Isso porque, quando a gente fala de maternidade, estamos falando de mulheres que estão não só com crianças – porque quando se fala de mães tem-se a preconcepção de que só há uma criança do lado –, mas falamos de mães que estão responsáveis por idosos, adolescentes e pessoas com deficiências”.
Apenas na primeira semana de mapeamento de mães, na qual a organização disponibiliza formulários online para que as mulheres pudessem descrever a situação na qual estão e pedir ajuda, Thaiz afirma que foram localizadas 732 mulheres de 20 estados do Brasil.