Roraima registrou, em 2023, o maior índice de partos prematuros da Região Norte, com 6,3 mil bebês nascidos antes do tempo. O número corresponde a 18% dos 35 mil casos contabilizados na região, que detém a maior taxa de prematuridade do Brasil, com 12,61% de todos os nascimentos, superando a média nacional de 12%.
Já em 2024, até novembro, dados do Ministério da Saúde mostraram que foram notificados 1.618 partos prematuros em Roraima, do total de 245.247 no Brasil.
A professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA) Aurimery Chermont diz que esse é um problema antigo e multifatorial, relacionado com questões geográficas e sociais da região e também com a insuficiência da rede de atenção básica de saúde. De acordo com a especialista, muitas pessoas em idade fértil não recebem educação sexual para prevenir gestações indesejadas, nem informações sobre a importância do pré-natal. Além disso, as condições sanitárias e de alimentação, especialmente em comunidades mais carentes, ou distantes das cidades, são preocupantes.
“O nosso maior problema é a educação para a prevenção. Principalmente entre as gestantes mais jovens. Elas não fazem pré-natal por um motivo simples: ignorância. O segundo motivo é que muitas vezes, elas chegam na unidade de saúde e lá não tem os exames. O terceiro motivo é que, em algumas regiões, não tem como chegar. Se eu moro numa palafita e eu tenho que pegar um barco para ir até o posto de saúde, se estiver chovendo muito, eu já não consigo chegar. E às vezes, a gestante chega, identifica algum problema, mas não tem a medicação no posto pra ela tomar, então não dá continuidade. Aí ela não faz pré-natal, ela não faz vacina, ela não faz prevenção.”, complementa a professora da UFPA.
As estatísticas nacionais corroboram as informações da professora. A Região Norte registrou, em 2023, mais de 55 mil partos de pessoas com até de 19 anos, o que representa 19% de todos os nascimentos ocorridos no estado. Ou seja, uma em cada cinco gestantes era menor de idade quando engravidou ou tinha acabado de completar 18 anos. A taxa supera a proporção nacional, que ficou em 12%. A região também tem a menor proporção do país de residências com esgotamento sanitário e abastecimento de água e, no ano passado, cerca de 30% da população estava em situação insegurança alimentar.
Em Roraima, a situação se agrava nas comunidades indígenas, como a Terra Indígena Yanomami, onde a desnutrição infantil, iniciada ainda na gestação, é uma das principais causas de partos prematuros. A dificuldade de acesso a serviços médicos em áreas remotas também contribui para o problema. “A região enfrenta limitações como rios secos, que dificultam o transporte fluvial, e a falta de profissionais de saúde capacitados para atender in loco”, destaca Aline Hennemann, da Coordenação-Geral de Atenção à Saúde das Crianças do Ministério da Saúde.
Para enfrentar o problema, o Ministério da Saúde lançou a Rede Alyne, estratégia que busca qualificar o pré-natal e ampliar o cuidado a bebês prematuros. Em 2023, foram investidos R$ 400 milhões no programa, e a previsão é de que os recursos alcancem R$ 1 bilhão em 2025. “Precisamos oferecer um pré-natal de qualidade, que inclua diagnóstico precoce, suporte integral à gestante e atenção às desigualdades regionais”, reforça Hennemann.
*Com informações da Agência Brasil