Nos últimos anos, pesquisas têm apontado este carboidrato cristalizado comestível como um grande vilão da alimentação. O efeito de dependência que o açúcar provoca seria semelhante ao de outras drogas, como tabaco, álcool e cocaína. Até a forma de extração da natureza é parecida: o princípio ativo de uma planta é transformado em um pó fino e branco que vicia e dá energia.
Por não conter nenhum nutriente, o açúcar é rapidamente digerido pelo organismo e transformado em glicose, que libera energia para as células trabalharem.
Se consumido em excesso, gera, portanto, uma quantidade desnecessária de combustível. É quando um sistema de regulagem entra em ação: o pâncreas produz insulina para regular a taxa de glicose no sangue. E a liberação deste hormônio além do necessário gera aumento de peso.
As explicações para o vício – O açúcar vicia porque interage no cérebro com neuropeptídeos, substâncias que levam a um sistema de dependência. O órgão central do sistema nervoso registra que este tipo de carboidrato é uma fonte rápida de energia e torna a requisitá-lo quando há falta de alimentos.
Cientistas já identificaram as áreas do cérebro ativadas pela ingestão de doces e descobriram que são as mesmas relacionadas ao vício em drogas, o que prova a real capacidade viciante do açúcar. Pesquisadores das universidades de Princeton e Minnesota, nos Estados Unidos, comprovaram que o consumo sistemático de açúcar leva à compulsão e à síndrome de abstinência.
O excesso de açúcar branco é considerado um destruidor da flora intestinal boa e, além disso, diminui a barreira protetora intestinal, explica a nutricionista e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Gilberti Hübscher. Com isso, diminui a capacidade de gestão de quebra das moléculas dos alimentos, a capacidade de absorver os nutrientes e os mecanismos de imunidade do corpo.
Segundo a especialista, é preciso desmistificar a ideia de que o açúcar causa apenas diabetes ou obesidade, mas diversos outros problemas. A própria deficiência de nutrientes na célula é uma das causas que provoca o desejo por doce. A introdução de alimentos ricos em nutrientes que produzem o hormônio do prazer (serotonina) é importante. Entre eles, estão cereais integrais, carnes brancas, vegetais e peixes como sardinha, atum e salmão.
– O consumo diário deveria ser zero. Não precisamos de açúcar branco porque ele não tem valor nutricional, apenas valor energético, que podemos encontrar em outros alimentos – afirma Gilberti.
Traços da dependência – Se você tenta diminuir a dose de açúcar e sente sintomas de abstinência, como dor de cabeça, desconforto, falta de motivação, cansaço, alteração do sono, inapetência (falta de vontade de comer) e hiperfagia (vontade de comer demais), há fortes indícios de que você é dependente do açúcar.
Outro traço é que outras pessoas, como familiares e amigos, reclamem do consumo abusivo das guloseimas, afirma a psiquiatra Carla Bicca, especialista em dependências químicas e terapeuta cognitiva.
Fonte: gauchazh
Suspiro – Roberta D’Albuquerque é psicanalista, escreve semanalmente neste espaço e em diversos jornais do Brasil sobre infância e comportamento. No caminho de volta da minha análise, agora há pouco, cruzei um café e concluí que faria sentido entrar e comer um sonho. Achei graça. São os sonhos a me engolir parte do que levo para a minha análise. Foram eles, os doces favoritos de minha infância nem sempre doce.
Eram duas as opções na vitrine: assado ou frito. Tendo como ponto de referência a conversa que ainda ressoava na minha mente, fui no frito. Para rapidamente me deixar ser invadida pelo pensamento que costuma me convencer quando opto pelo lanche menos saudável disponível: se é para molhar os pés, por que não mergulhar de uma vez?
E no mais, é saudável andar de pés molhados nesse São Paulo de vento gelado? Não saberia dizer. Mergulhei. Já que o sonho era grande e a quantidade de açúcar exagerada, balanceei com uma coxinha. Frita. E perdi a hora do meu próximo compromisso, porque um café de fim de tarde há de ser vivido sem pressa. Ainda que em São Paulo. São Paulo que sabe ser quentinha, mesmo se venta e é inverno.
Eram duas as opções de mergulho na minha infância: pensar ou ressoar. Tendo como ponto de referência o disponível. Sonhei. Para rapidamente não me deixar acostumar a me convencer pelo mental. Se é para fritar que me invadam as conversas, os lanches, os pés molhados. Por que não adoçar de uma vez?
No caminho de volta do meu café, agora há pouco, analisei a graça. Achei que fazia sentido. São os suspiros os doces favoritos de minha vida que por não ser sempre doce não é parte, é todo. Não se deixa engolir.