Uma pesquisa realizada pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo) mostrou que preparar refeições “do zero” colabora com a melhora da alimentação infantil. A quarentena imposta pela pandemia influenciou diretamente a maneira como as pessoas preparam a comida. Os que já tinham habilidade para pilotar o fogão tiveram vantagens em relação àqueles que não apresentam essa prática para alimentar os filhos de forma mais saudável.
O tempo todo dentro de casa e o café da manhã, almoço e jantar sendo feitos em família fez com que quem não cozinhasse contasse com o delivery e o consumo de ultraprocessados para dar conta da alta quantidade de refeições. A pesquisadora Carla Martins, do Nupens, em artigo publicado na revista científica britânica Appetite, analisou os dados de estudantes dos primeiros quatro anos do ensino fundamental e as habilidades culinárias de suas famílias.
Os adultos foram classificados entre os grupos: cozinha saudável, cozinha convencional e cozinha conveniente. Na saudável, possuíam segurança para cozinhar utilizando alimentos in natura e minimamente processados. Cozinha convencional refere-se àqueles que planejam a compra dos alimentos e detêm segurança no preparo de refeições diárias. Já os da cozinha conveniente somente finalizavam refeições já prontas e faziam o uso de ultraprocessados.
O resultado da pesquisa demonstrou que filhos de pessoas do grupo saudável acabam consumindo menos processados, ao contrário das crianças de famílias da cozinha conveniente. Assim, não basta somente cozinhar em casa, mas o nível de habilidade para cozinhar “do zero” é o que apresenta, de fato, mais impacto em uma alimentação nutritiva.
Uma variedade de chefs de cozinha que têm ganhado a mídia como Rita Lobo, Paola Carosella e Bela Gil são árduas defensoras da comida de verdade. Elas incentivam o alimento preparado no fogão, ao invés de comprado pronto, através do uso de alimentos in natura, isto é, sem que tenham sofrido alterações como frutas, legumes e verduras, juntamente com os minimamente processados que passaram por alterações leves, como grãos, farinhas e leite pasteurizado. Já os ultraprocessados atravessam etapas de processamento que alteram negativamente a composição nutricional dos alimentos.
O Guia Alimentar Para a População Brasileira, documento elaborado pelo Ministério da Saúde, recomenda, como base de alimentação, alimentos in natura ou minimamente processados e em grande parte de origem vegetal. O guia também orienta a evitar os ultraprocessados, já que são nutricionalmente desbalanceados. A quarentena também proporcionou um tempo em casa em que muitos puderam investir em aprender novas habilidades, e cozinhar “do zero” parece ser uma das essenciais e que tem resultado diretamente na saúde de adultos e crianças.