Pode não parecer, mas aquela porção do cineminha tem cinco vezes mais fibras do que se você comesse a mesma quantidade, em gramas, de alface! A notícia, por si só, já é saborosa para quem precisa botar o intestino nos eixos. Mas o efeito digestivo só acontece se você beber alguma coisa junto. E, por favor, evite o refrigerante. Água ou suco são as melhores pedidas.
A parte mais fibrosa do milho ou pericarpo, no jargão dos especialistas também tem papel importante na explosão dos grãos. “Trata-se de uma película grossa que retém o amido”, diz o engenheiro agrônomo Eduardo Sawasaki, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no interior de São Paulo. A questão é que esse amido incha-se em altas temperaturas. A capa de fibras não. Ou seja, a pressão no interior do grão se torna insuportável. Resultado: poc!
Como num passe de mágica, o grão duríssimo se transforma em um floco branco e macio. Nesse novo e irresistível formato, uma substância chama a atenção dos experts em saúde: o amido resistente. Preste atenção porque a notícia, aqui, é mais quente do que pipoca recém-saída da panela: esse carboidrato duro na queda passa intacto (ou quase) pelo aparelho digestivo e assim não provoca altas repentinas nos níveis de glicose. Quem ganha com isso? “Quem está no grupo de risco do diabete tipo 2”, responde a nutricionista Maria Cristina Dias Paes, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, em Sete Lagoas, Minas Gerais.
Bote mais milho na pipoqueira porque lá vem outra boa nova: a campeã de audiência na sessão da tarde e no escurinho do cinema oferece ácido fólico, vitamina importante para mulheres em idade fértil e que desponta em diversas pesquisas como protetora do coração. Contém ainda pequenas doses de minerais como o fósforo e o potássio, uma dupla que atua no sistema nervoso, na formação dos ossos e na manutenção dos músculos. Final feliz? Ainda não. Conheça a segunda parte desse enredo.
Mas não adianta investir na pipoca vendida no cinema ou a industrializada para micro-ondas (Foto: Divulgação)
O lado, digamos, dramático desse filme é a gordura. E ponto. Não dá para deixar o ingrediente de lado e só contar o lado bom da história principalmente quando se fala da versão para microondas. “A gordura, no caso, aparece em doses generosas porque afasta a umidade que poderia comprometer os grãos dentro da embalagem”, diz Eduardo Sawasaki, do IAC. O óleo também acentua o sabor e torna os flocos mais macios. Por isso é usado sem economia por aí.
Em casa pode ser diferente. A velha pipoca caseira não precisa ser feita em uma panela toda besuntada. Basta um discreto fio de óleo. Ele, aliás, é necessário, sim. “A gordura, dentro da panela, ajuda a dissipar o calor, o que garante que a maioria dos grãos irá estourar”, justifica o engenheiro agrônomo Cleso Patto Pacheco, da Embrapa.”Se quiser diminuir calorias, você pode até se virar sem esse fiozinho modesto”, conta a química Alice Murai, da Hikari. Mas aí prepare-se para encontrar, lá no fundo da panela, um montão de piruás, como dizem os mineiros, referindo-se aos grãos que sobram inteiros, às vezes queimados.
Se der para evitar o sal, melhor ainda (Foto: Divulgação)
Fonte: Regina Celia Pereira/Saúde Abril
ARTIGO
¿Qué pasa?
Por Roberta D’albuquerque
Saiu a lista dos melhores filmes do ano da New Yorker. Não sei como você processam esse tipo de notícias, eu funciono no modo competição/comparação. Passo 1: comparo meu ranking ao da publicação com críticas, interjeições e alguns “que absurdo!”, “nada a ver!”, “sem dúvidas!”. Passo 2: lamento os filmes não vistos e agendo para logo, loguíssimo essa correção. Qualquer lista.
Embora não me considere uma especialista – longe disse – costumo deixar passar poucos títulos. Esse ano, no entanto, fiquei surpresa ao constatar que, da lista, vi menos da metade dos títulos. ¿Qué pasa?
As narrativas de ficção me acompanharam de perto o ano inteiro. Pensei em personagens durante os intervalos da clínica, no banho, antes de dormir. Estive acompanhada por tanta gente que não conheço, ora com medo, ora com ternura, sempre com esperança, tocada por uma fala, um desejo de que Fulano conseguisse o que queria, de que Beltrano chegasse a tal lugar, de que quem quer que seja recebesse a resposta que esperava.
Em 2018, foram os livros e não o cinema, que encontraram, em mim, espaço para esse outro sem cpf. O outro real, de carne e osso, tem cadeira cativa no consultório, nas relações, na vida mesmo. O Outro, assim mesmo com maiúscula, esse é conversa para um próximo (próximos) texto.
Ainda sobre esse espaço que reservamos para que outras histórias nos toquem, penso que ele tem capacidade elástica. Mas há de esticar, deixar crescer, antes que a borracha endureça. Há de fazer um esforço. A vida – real e psíquica (como se as duas não fossem a mesma coisa) – pode ser danada de grande, pode ser rica. E pode ser também uma kitnet miúda e mal cuidada.
O cinema, a literatura, a música, a arte são esticadores de vida, são a mega sena da virada que pode premiar todo mundo que fizer a sua aposta. A gente já sabe. Desejo para mim e para vocês esse prêmio delícia cada vez mais presente no próximo ano. É um exercício, o espaço para o outro sem cpf cresce na mesma proporção do espaço para o outro real. Merecemos todos mansões internas, com piscinas e festas cheia de gente. Bora?
ps: vou adorar ler as listas dos melhores do ano de vocês. Mandem no e-mail [email protected].