Saúde e Bem-estar

Quase 40 instituições se unem para aumentar cobertura vacinal da pólio

Estado teve apenas 50,22% das crianças na cobertura vacinal em 2021. Notícias falsas sobre vacinas são a principal causa da queda do percentual

Trinta e nove entidades públicas e privadas se uniram numa coalizão para combater a baixa cobertura vacinal da poliomielite em Roraima. Coordenada pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a campanha Roraima contra a Pólio foi lançada nesta quarta-feira (30), no Conselho Regional de Medicina (CRM-RR), em Boa Vista, e deve durar seis meses.

As entidades assinaram a Carta de Roraima contra a Pólio, na qual se comprometem em alcançar os seguintes objetivos: criar urgência e responsabilidade política; fortalecer a capacidade para detecção por meio de um sistema de vigilância sensível e oportuno; fortalecer as capacidades locais para prevenção e resposta a surtos; e promover a rápida intensificação das coberturas vacinais das principais doenças imunopreviníveis no Estado.


Acometido pela poliomielite na infância, Oleno Matos assina carta (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Segundo o DataSUS, a cobertura vacinal contra a doença no Estado tem caído nos últimos anos. Se em 2015, Roraima atingiu 112,28% (passa dos 100% por incluir públicos alvos da campanha), o percentual foi de 50,22% em 2021.

Além disso, em Boa Vista, dos 47 mil alunos municipais, apenas 16 mil estão com o cartão de vacina em dia contra a doença. Dos principais motivos apontados pelas instituições que explicam a queda na cobertura vacinal é o compartilhamento de notícias falsas e movimentos antivacina.

“Temos um risco real de reintrodução da poliomielite no Brasil por meio de Roraima”, disse a oficial de Saúde e Nutrição da Unicef-RR, Daiana Pena, considerando o impacto da migração venezuelana no Estado e o recrudescimento da doença na América após três décadas.


A oficial de Saúde e Nutrição da Unicef-RR, Daiana Pena (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“Como sociedade, precisamos nos mobilizar para aumentar a cobertura vacinal e proteger as crianças de Roraima de uma doença terrível que pode causar a morte delas”, pontuou Daiana.

A maioria das atividades da campanha para incentivar os pais e responsáveis de crianças a levá-las aos postos de vacinação será concentrada em Pacaraima, na fronteira com o país vizinho. Em março ou abril, o grupo de trabalho voltará a se reunir para avaliar o progresso da mobilização.

“Vacina no braço, município e estado alcançam a cobertura e a população fica protegida”, pontuou a coordenadora geral da Vigilância em Saúde de Roraima, Valdirene Oliveira.

A secretária municipal de Saúde de Boa Vista, Regiane Matos, afirmou que a pasta trabalhará em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação e outras pastas para colaborar com a campanha. “Precisamos recuperar a nossa referência, que se perdeu porque, infelizmente, muita coisa foi criada, como as fake news sobre as vacinas. A gente vai precisar sensibilizar a população e os pais da importância da vacinação. Isso é primordial”, destacou.

Na reunião, o defensor público Oleno Matos, acometido pela poliomielite na infância, defendeu metas para a campanha, dias de vacinação, ampla divulgação da campanha e a mobilização das entidades envolvidas.

Dentre outras entidades que aderiram à coalizão, estão a Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), a OIM (Agência da ONU para Migrações), a Acnur (Agência da ONU para Refugiados), os conselhos regionais de Enfermagem (Coren) e Medicina (CRM), a Operação Acolhida, Médicos sem Fronteiras e a Organização Pan-americana da Saúde (Opas).

A coalizão vai trabalhar para:

  • Promover uma mobilização social para minimizar possíveis resistências de parcelas da população em relação à segurança das vacinas;
  • Ampliar recursos humanos qualificados para a atenção primária;
  • Fortalecer as informações a respeito da poliomielite e sensibilizar sobre a abordagem de casos suspeitos de paralisias flácidas agudas;
  • Melhorar o intercâmbio de informações sobre imunização e promoção de estratégias de vacinação sinérgicas e complementares;
  • Expandir os currículos dos cursos profissionalizantes de saúde, que nem sempre contemplam os conceitos e as estratégias de imunização ou informações específicas sobre poliomielite.