A Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência, iniciada em 1º de fevereiro, foi encerrada na última quinta-feira (09). A data foi instituída pela Lei nº 13.798/2019 com objetivo de disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência.
Em Roraima, de 2020 a 2022, a Secretaria de Saúde (Sesau) informou que o quantitativo geral de partos, realizados no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, foi de 29.700. Desses, 7.428 partos foram realizados em crianças de 10 a 19 anos, cerca de 25% dos procedimentos totais.
Com a intenção de entender como a gravidez afeta psicologicamente as mães adolescentes, a FolhaBV conversou com a psicóloga e especialista no atendimento de adolescentes, Juliana Paim. Conforme a especialista, os principais problemas psicológicos são aumento da ansiedade, incerteza quanto ao futuro, depressão e abandono.
“[Há o] abandono temporário ou definitivo da escola, o que impacta diretamente no grau de escolarização e empregabilidade. Também é comum ocorrer aumento dos conflitos familiares e piora nas relações com os pais. Em algumas famílias, ainda ocorre o abandono da adolescente à própria sorte, inclusive sem o sustento para as despesas básicas”, explicou a especialista que atua em Brasília.
Em casos de gestação por violência sexual, Juliana explica que os prejuízos psicológicos de uma adolescente mãe e vítima do crime “são devastadores”. A criança pode desenvolver tais problemas atrelados à traumas e em grandes proporções por vários fatores, como:
- A idade da vítima no início ou único ato de violência;
- O grau de proximidade do perpetrador da violência;
- Se houve ou não emprego de violência física e psicológica para a concretização do crime;
- Como foi o envolvimento de autoridades na denúncia;
- A credibilidade ou não da família na ocorrência ou não da violência;
- E, a garantia dos direitos da adolescente, inclusive ao aborto e a entrega voluntária da criança (art. 128, da Lei nº 2.848/40 do Código Penal; art. 19-A do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; Lei da Escuta Protegida, nº 13.431/17, do ECA).
O caso de gravidez na adolescência também tem efeitos tanto para os adolescentes genitores quanto para a criança nascida. Por isso, a rede criada pela família, amigos e proteção pública é uma boa forma de oferecer suporte à mãe e ao filho. Para a psicóloga, também é importante o acesso à vagas em creches, o acesso à qualificação profissional e suporte da escola para evitar a evasão.
“O prejuízo será maior ou menor dependendo do grau de suporte familiar e da flexibilidade da escola para que esses adolescentes não precisem interromper os estudos. Também é necessário prover o acompanhamento psicológico e de planejamento familiar, com acesso à educação para sexualidade, garantia dos direitos reprodutivos e acesso aos métodos anticoncepcionais. Sem esse acompanhamento multidisciplinar, a tendência à segunda gravidez antes dos 18 anos aumenta”, completou a especialista em adolescentes.
O suporte da rede pública
Na atuação de suporte público, as primeiras ações de prevenção e acompanhamento na gravidez na adolescência são iniciadas pela atenção primária de saúde: a Prefeitura de Boa Vista (PMBV). Em nota à FolhaBV, a atual gestão da PMBV explicou que disponibiliza a Consulta de Enfermagem Ginecológica com ênfase no planejamento reprodutivo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da capital.
“A ideia é fortalecer ainda mais o cuidado integral à saúde da mulher, seja no planejamento reprodutivo, avaliação da mama e colo de útero, saúde sexual e detecção de violência contra a mulher”, explicou a PMBV. As UBS também disponibilizam os métodos contraceptivos na rede oferecidos pelo SUS, como preservativos, anticoncepcionais orais, anticoncepcionais injetáveis mensais e trimestrais e DIU de Cobre.
Nas escolas, é desenvolvido o projeto Vale Sonhar com a finalidade de trabalhar a prevenção por meio de oficinas que abordam como a gravidez não planejada nesta fase da vida e que pode trazer sérias consequências para o futuro. Além disso, “profissionais das áreas da saúde, educação e social foram capacitados para atuarem como agentes multiplicadores”, finalizou a nota da PMBV.
Já na rede secundária de saúde, o Governo de Roraima informou que atua na prevenção e acompanhamento, por meio da Sesau e da Secretaria de Educação e Desporto (Seed), com o atendimento aos casos de gestação de alto risco e prestando os serviços de atenção especializada no Centro de Referência da Saúde da Mulher Maria Luíza Castro Perin.
Nas escolas, o Governo realiza ações para orientar as jovens sobre riscos de gravidez e de DST’s (Doenças Sexualmente Transmissíveis). “A Seed informa que gravidez na adolescência e DST’s são temas transversais que são trabalhados no currículo escolar em todas as etapas do processo educativo, de forma integrada e contínua”, explicou na nota.
Ambos ressaltaram o reforço e importância da família com diálogo e orientação sobre os riscos de uma gravidez na adolescência.