Já é automático na hora de cozinhar: descasca, corta o talo, retira as sementes. Parece que esse hábito representa o ritual de higienização e preparo dos alimentos. Normalmente, essas partes não parecem ter alguma função ou sabor, e raramente são servidas à mesa.
Mas não se engane pelas aparências! Quase tudo que é descartado no pré-preparo das refeições não só pode ser aproveitado nas receitas, como também apresenta tantos nutrientes quanto as partes consideradas convencionais.
Segundo o livro “Na cozinha com frutas, legumes e verduras”, elaborado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), consumir integralmente um determinado alimento representa o aproveitamento dele como um todo, sem desprezar nada. Ou seja: está liberado comer da semente até o talo.
De acordo com especialistas, as cascas, os talos e até as sementes concentram grandes quantidades de vitaminas, minerais, fibras e nutrientes essenciais para a saúde e para a prevenção de doenças.
No caso das fibras, elas são superimportantes para o funcionamento de todo o trato gastrointestinal, que são os órgãos que compõem o sistema digestivo. Faz sentido agora ter ouvido durante tanto tempo que era importante tomar suco sem coar?
A nutricionista do Ministério da Saúde, Nadia Amore, explica que as cascas e sementes, em geral, são grandes fontes de fibra e costumam conter os mesmos nutrientes que o alimento em si.
Ela afirma que a casca de banana, por exemplo, contém triptofano, que é parte componente do hormônio serotonina, responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Já a casca e semente da melancia fornecem licopeno, que está associado à prevenção do câncer de próstata.
A casca e o bagaço da laranja são fontes de vitamina C, um poderoso antioxidante. Enquanto que a casca do abacaxi, além das fibras e da vitamina C, contém a enzina bromelina, que auxilia a digestão de proteínas. Deu para perceber que aquele abacaxi assado não é servido à toa nos churrascos, né?!
Nadia complementa ainda que a casca da abóbora contém betacaroteno, antioxidante que reduz o risco para doenças cardiovasculares e câncer. Já as sementes contêm zinco, magnésio, potássio, ferro e outros nutrientes, que em alguns estudos têm sido associados à proteção da próstata, alívio dos sintomas da menopausa e diminuição da ansiedade e insônia.
E que tal uma batata rústica? A casca de batata inglesa contém fibras, potássio, ferro, zinco e vitamina C, sendo estes dois últimos relacionados ao bom funcionamento do sistema imunológico.
Por fim, a nutricionista comenta que os talos de hortaliças como couve, brócolis e agrião são ricos em fibras, vitaminas e minerais, em especial cálcio e magnésio, associados à boa manutenção de ossos e dentes.
Quando um alimento não pode ser reaproveitado?
Se ele estiver com aparência de podre ou sinal de mofo, pode jogar no lixo sem medo. O consumo nesse caso pode ser bastante perigoso, já que existe o risco de contaminação. Além disso, o consumo de cascas e talos requer uma higienização caprichada para redução de sujeiras e pesticidas. Sempre que for possível, prefira produtos orgânicos.
Outra situação que merece atenção é em relação a toxidade dos alimentos. A mandioca-brava, por exemplo, apresenta alto teor de ácido cianídrico, que é tóxico e a torna inadequada para o consumo humano sem o devido processamento em altas temperaturas, conforme ensina Nadia.