O mais recente Boletim Infogripe, publicado nesta sexta-feira (21/05) por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), revela que a situação da pandemia de covid-19 no Brasil voltou a piorar em pelo menos oito Estados.
Em outros dez, a tendência de queda nos números está se estabilizando, o que também representa uma preocupação.
Os dados analisados compreendem a semana epidemiológica 19, que vai de 9 a 15 de maio.
“Como vem sendo alertado desde a atualização da semana 14, diversos desses estados ainda estão com valores similares ou até mesmo superiores aos picos observados ao longo de 2020”, aponta o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, num comunicado divulgado pela própria FioCruz.
“Tais estimativas reforçam a importância da cautela em relação a medidas de flexibilização das recomendações de distanciamento para redução da transmissão de covid-19, enquanto a tendência de queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para que o número de novos casos atinja valores significativamente baixos”, completa o especialista.
Como o relatório foi feito?
O Boletim Infogripe é publicado semanalmente e avalia as notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Todos os hospitais do Brasil são obrigados a transmitir ao Ministério da Saúde as informações de pacientes internados com problemas respiratórios.
Esses relatórios são fundamentais para entender a situação da saúde pública no país e lançar mão de políticas capazes de conter surtos e epidemias.
Embora a SRAG não seja sinônimo de covid-19, é de se esperar que, durante uma pandemia, a maioria das hospitalizações por incômodos respiratórios tenha algo a ver com o vírus em maior circulação no momento — atualmente, o Sars-CoV-2, o coronavírus responsável pela pandemia atual.
Os especialistas da FioCruz usam esses bancos de dados públicos para fazer comparações entre as semanas epidemiológicas e ver como o número de indivíduos afetados pela tal da SRAG se modifica com o passar do tempo.
Quais as descobertas do relatório?
O Boletim Infogripe desta semana traz um alerta importante: o sinal de crescimento nos casos de SRAG em oito Estados.
São eles: Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Tocantins, Distrito Federal e Rio de Janeiro
Em duas dessas unidades (Distrito Federal e Rio de Janeiro), a probabilidade de uma nova subida acontece no curto prazo, em três semanas.
Nas demais, esse provável repique pode se consolidar no longo prazo, dentro de um mês e meio.
Um segundo achado importante: em outros dez Estados, que apresentavam anteriormente uma tendência de queda nas notificações de SRAG, foi observada uma interrupção nesse processo, com uma estabilização dos números.
Isso significa que as curvas, antes descendentes, estão se mantendo iguais e podem até voltar a crescer nos próximos períodos.
Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo se encaixam nesse segundo grupo.
Um mesmo cenário (aumento ou reversão na queda dos casos) foi observado em diversas capitais brasileiras e nas macrorregiões da saúde, como aponta o relatório da FioCruz.
O que essas descobertas sinalizam?
Em primeiro lugar, esses indícios sugerem que o retorno às atividades econômicas e sociais aconteceu muito cedo.
Ao primeiro sinal de arrefecimento, muitos prefeitos e governadores aliviaram as medidas restritivas tomadas anteriormente, que reduziram de forma considerável a quantidade de pessoas fora de casa.
Com mais gente nas ruas, o coronavírus também voltou a circular com maior intensidade.
Mais gente infectada, por sua vez, é sinal de uma maior procura por pronto-socorros e postos de saúde, num momento em que as taxas de ocupação de leitos continuam bem longe do ideal.
E isso pode representar uma piora na situação da pandemia nas próximas semanas.
“Tal situação, caso ocorra, não apenas manterá o número de hospitalizações e óbitos em patamares altos como também manterá a taxa de ocupação hospitalar em níveis preocupantes, impactando todos os atendimentos, não apenas aqueles relacionadas à síndromes respiratórias e covid-19”, aponta Gomes.
Portanto, um aumento das internações pode aprofundar ainda mais a crise sanitária, aumentar os casos e mortes por covid-19 e levar a um novo colapso do sistema de saúde, o que alguns epidemiologistas encaram como uma “terceira onda”.
Com informações da BBC – Brasil