A partir desta segunda-feira (1°), os médicos do Programa de Residência Médica de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR) paralisam as atividades nas unidades hospitalares. Eles se queixam da ausência de atividades práticas no Hospital Geral de Roraima (HGR), já noticiada pela FolhaBV, e reclamam da falta de solução.
Um dos residentes, que não quis se identificar, informou que a situação ocorre desde outubro do ano passado, quando o serviço de ortopedia do HGR passou a ser realizado de forma integral por uma empresa de saúde terceirizada.
Desde então, os médicos teriam sido realocados em outras unidades hospitalares, como o Pronto Atendimento Cosme e Silva e o Hospital da Criança Santo Antônio. Entretanto, o exercício prático da profissão pelos residentes teria sido afetado, pois nesses locais não são realizados procedimentos cirúrgicos e nem atendem emergências.
“Nesse momento, o nosso campo prático de conhecimento acabou de vez. Se uma pessoa sofre um acidente e quebra um osso, ela é levada direto para o HGR, de onde fomos tirados. Não tem como fazer cirurgia no Cosme e Silva, lá não tem centro cirúrgico e a gente não treina. Se continuar assim, vamos sair da residência como médicos ruins e sem experiência para fazer operações”, disse.
No documento que oficializa a paralisação, os profissionais da saúde alegam que o objetivo é conseguir melhoria do ensino dos residentes, pois nenhuma medida teria sido executada para solucionar a ausência de atividade prática no HGR nos setores de emergência, centro cirúrgico e enfermaria.
“A paralisação vai durar até resolverem o problema, porque estamos nessa situação há meses. Já fizemos vários documentos relatando o que acontece e, até hoje, ninguém fez nada. Desde o ano passado é avaliada a paralisação, já fomos muito prejudicados”, relatou.
Sesau e UFRR
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde disse que não procede a alegação de ausência de medidas e que a proposta para continuidade da residência médica de ortopedia no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento foi encaminhada para apreciação do Conselho de Residência Médica da Universidade Federal de Roraima no dia 12 de março, tendo sido recebida pela entidade no dia 18 daquele mês.
É importante ressaltar que a proposta considerou uma série de condicionantes, como a reunião das partes com Ministério Público de Roraima, as resoluções do Conselho Nacional de Residência Médica e Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e a importância da presença de corpo clínico para acompanhar as atividades dos residentes contemplados no programa. No momento, a Sesau aguarda apenas retorno do Coreme da UFRR.
Acrescentou a nota.
A reportagem entrou em contato com a Comissão de Residência Médica da UFRR que se manifestou por meio da seguinte nota:
Há necessidade de organização do serviço da Ortopedia e Traumatologia para o desenvolvimento do Programa de Residência Médica (PRM). Houve o deslocamento de médicos concursados para o Hospital Coronel Mota e Cosme e Silva. O hospital de referência para urgência e emergência é o Hospital Geral de Roraima e houve a proposta da Direção Geral que não se adequa para o desenvolvimento do PRM. Estamos aguardando o posicionamento da Coordenação do Serviço para o adequada formação do especialista em Ortopedia e Traumatologia. O órgão financiador das bolsas de Residência Médica é a Universidade Federal de Roraima. A graduação e pós graduação da UFRR são realizados como cenários de práticas nos Hospitais Estaduais, Municipal, UBS , convênio Ministério da Saúde e Ministério da Educação… Essas tratativas vêm sendo desde fevereiro de 2023, acompanhadas pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e Ministério da Educação. Estamos aguardando a visita de dois avaliadores designados pela Comissão Nacional para esse mês.
MPRR vai apurar a situação
Ainda no ano passado, o grupo acionou o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), que instaurou um procedimento para acompanhar o andamento no serviço de Ortopedia no HGR e realizou uma reunião no início de fevereiro.
Na ocasião, um dos tópicos estabelecidos em documento foi que, a partir do dia 1° de março, haveria manutenção e continuidade do Programa de Residência Médica mediante definição dos competentes preceptores com dedicação de 10% da respectiva carga horária. Entretanto, conforme o estudante que conversou com a FolhaBV, a medida não foi cumprida.
Procurado pela reportagem, o MPRR informou que tomou conhecimento da paralisação e acionará a UFRR, bem como a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e a Coordenação da Comissão de Residência Médica de Roraima (Coreme-RR) para obter explicações sobre o não cumprimento de medidas acordadas em reunião.