Pessoas a partir de 18 anos com alguma comorbidade, como diabetes, hipertensão descontrolada, obesidade ou doença pulmonar, ou que tenham mais de 65 anos, e que estejam nos primeiros sete dias da Covid-19 podem se voluntariar a fazer parte do estudo com o ABX464, um medicamento que visa combater a evolução do vírus à fase crônica, também conhecida como fase 2.
O medicamento (ABX464) faz parte do miR-AGE, um estudo para a Covid-19 lançado pela Abivax SA, da França. Atualmente, mais de 300 pacientes que atenderam os pré-requisitos se tornaram participantes na França, Alemanha, Reino Unido e Itália.
No Brasil, o estudo já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, até o momento, é desenvolvido em uma clínica da região Norte: o Centro Oncológico de Roraima (Cecor), localizado na capital Boa Vista.
A médica do Cecor, Juliana Gomes, explicou que muitas pessoas já entraram em contato para se voluntariar. No entanto, a maioria não atendeu aos pré-requisitos.
“As pessoas estão achando que o medicamento é de prevenção, mas ainda não é. O ABX464 age para evitar a evolução da doença. Por isso a fase inicial dos sete dias é essencial, para que a medicação haja no organismo e não evolua”, disse.
Estando apto a participar do estudo, o voluntário passa por triagem e uma bateria de exames antes de iniciar a medicação, que é prescrita para 28 dias ininterruptos. Durante as semanas do tratamento, e até mesmo após o término do medicamento, o paciente recebe acompanhamento quase diário por meio de ligações, além de avaliações semanais. Atualmente, o estudo conta com três participantes.
Os interessados que se enquadram nos critérios pré-estabelecidos podem entrar em contato pelo WhatsApp 99162-1921.
O médico oncologista, Dr. Allex Jardim, apontou que a pesquisa pode vir a causar estranheza ao brasileiro, mas que não há motivos para isso.
“O Brasil sempre importou o conhecimento já pronto. Agora isso mudou, o país tem participado da elaboração de remédios novos e isso causa certa estranheza. As pessoas pensam se devem participar e a resposta é sim. Tudo que você dá pro seu filho de remédio e vacina já passou por esse processo”, explicou.
Em todo o país, o Cecor é a primeira clínica a iniciar o estudo do ABX464. Antes disso, entretanto, o Centro já realizava estudos e pesquisas no combate à dengue e influenza, inclusive em cooperação com a Universidade Federal de Roraima (UFRR). “Por meio desses trabalhos fomos chamados a fazer parte da pesquisa do coronavírus”, falou a médica Juliana.
Médico explica funcionamento do ABX464 no organismo
Conforme o Dr. Allex Jardim, o ABX646 possui um mecanismo triplo de ação direto no vírus que inibe sua replicação viral. Sua parte mais importante, no entanto, é a imunomodulação da inflamação.
“Nós já descobrimos que a proteína induzida pelo vírus, a MIR124, é quem causa a inflamação excessiva, porque o que mata o paciente não é vírus diretamente, mas sim uma reação inflamatória excessiva que nós produzimos”, relatou.
Neste sentido, o medicamento vem a inibir a proteína, modulando a reação para que a inflamação seja suficiente para acabar com o vírus, mas não excessiva para matar a pessoa.
EFEITOS – O médico ressaltou que não houve registro de males, além de dor de cabeça, entre os mais de 300 pacientes testados. “Acreditamos que a dor de cabeça seja causada pelo próprio coronavírus, e não pelo medicamento”, finalizou.