Saúde e Bem-estar

Segredos para acalmar o choro do bebê

Entenda por que os pequenos derramam tantas lágrimas e, principalmente, como tranquilizá-los

O choro é a única forma de o pequeno comunicar o que deseja, especialmente nos primeiros meses de vida. É a forma de ele se expressar antes que seja capaz de dizer as primeiras palavras. No recém-nascido, é considerado um ato reflexo. “Com o tempo, ele se modifica. O bebê começa a reconhecer o ambiente em que vive e isso vai alterando seu comportamento”, explica a pediatra Devani Pires, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A partir do terceiro mês, a criança passa a entender que, ao precisar de algo, basta abrir o berreiro. Aí, nessa fase, o choro passa a ser voluntário.

Nos primeiros dois meses. Nesse período, pesquisas apontam que os recém-nascidos choram em média três horas ao longo do dia, em momentos variados. “No entanto, é importante lembrar que isso também está relacionado a uma questão individual e de temperamento. Existem bebês que choram mais e outros menos”, esclarece a pediatra Devani Pires. A tendência é que esse comportamento diminua ao longo do crescimento da criança.

Geralmente quando têm fome, sono, frio ou calor. Eles também põem a boca no mundo se sentem algum tipo de dor, sujam a fralda, estão com uma roupa desconfortável ou numa posição incômoda.

Converse sempre com o pediatra para obter orientações de como proceder nesses casos e procure a ajuda de especialistas se o seu filho apresentar um choro diferente ou algum sintoma como febre, tosse, erupções na pele, diarreia, vômito, abdômen inchado, falta de contato visual e estado de quietude anormal.

Existem síndromes e doenças que comprometem o choro do bebê. A psicomotricista Dione Macêdo, que trabalha na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do Rio Grande do Norte, costuma lidar com crianças que apresentam choros anormais desde os primeiros dias de vida. De acordo com ela, quem tem problemas neurológicos sérios, por exemplo, pode apresentar uma irritabilidade contínua e um choro estridente e muito nervoso. Em outros casos, como bebês com cardiopatias graves, o choro geralmente é fraco.

Sim, muitas vezes ele sinaliza algum incômodo. Mas também pode ser manha. Na dúvida, não custa dar um pulo no quarto para verificar se algo está acontecendo.

É fundamental conferir se está tudo bem com o bebê quando ele chora. Feito isso, os pais podem deixá-lo choramingando desde que se mantenham por perto. Uma dica é conversar com ele, contar histórias, cantar canções de ninar e passar a mão pela sua barriga. “Não é necessário dar colo sempre que a criança chora. Muitas vezes, é aí que começa o mimo em excesso”, afirma a enfermeira Daisy Leite.

Sim. “Toda mãe conhece o choro do filho, entende suas necessidades e sabe quando o bebê se manifesta de uma maneira diferente”, explica a enfermeira Daisy Leite, que estuda o assunto há mais de 40 anos. Daisy desenvolveu várias pesquisas nessa linha: as variações do choro, suas causas e as possíveis doenças que provocam esse comportamento, quando ele é anormal. Segundo ela, é exatamente o choro não identificado que leva a mãe a procurar o pediatra.

Em primeiro lugar, certifique-se de que ele não está com fome, sono ou com a fralda suja. Cheque também se o motivo da bronca não é calor ou frio. Quando o pequeno tem a reclamação atendida, costuma parar com o chororô. Mas, às vezes, o bebê está apenas pedindo um pouco de afago da mãe. Tente se aproximar do pequeno e falar em tom afetuoso frases como “Calma, filho, a mamãe está aqui”.

Outra saída é o uso do método “mamãe canguru”. Essa técnica é considerada por médicos e enfermeiros a melhor maneira de estreitar o contato entre mãe e filho. Isso porque o pequeno é colocado próximo ao corpo materno, com a ajuda de uma faixa de tecido – daí o nome. Visto com bons olhos por especialistas e mamães de primeira viagem, o método canguru costuma apresentar bons resultados, especialmente com bebês prematuros. Uma forma de pôr essa estratégia em prática é apelar para o sling, um acessório feito de pano amarrado ao ombro. Ele traz segurança e conforto à criança.

O ideal é que a criança seja acalmada com métodos diferentes. Se os pais acostumam o pequeno com alguns hábitos, como passear de carro ou no elevador, pegá-lo no colo sempre que chora, com o tempo pode ser difícil contornar situações em que não seja possível se valer desses recursos.

Fonte: www.bebe.com.br

ARTIGO

Desde quanto mansa é elogio?

Por Roberta D’albuquerque, psicanalista

Ouvir a conversa dos outros é feio? É. É irresistível? Também. Eu faço? Desde pequenininha. Amo e desenvolvi técnicas eficientes de disfarce para que os falantes não se incomodem com a minha escuta curiosa. Os restaurantes são meu terreno favorito para a prática, mas museus, rua aberta, cafés, livrarias, salas de espera e pracinhas também funcionam perfeitamente. Foi nesta última que ouvi o diálogo que reproduzo aqui. 

Eram duas mães desfilando elogios a uma criança que, aparentemente, era muito diferente das suas, que tomavam o sol ali no carrinho.

–    Queria que a Malu fosse como a Cacá, ela é muito boazinha, dorme a noite inteira. Quase não chora.

–    Sim. Tão mansa. Sábado, ficou quietinha olhando o Leo pegar os brinquedos dela. Era meio dia e a menina não reclamava de fome, nem de calor, uma graça.

Eu não vi graça. Senti por Cacá. Desde quando não chorar, se deixar invadir, calar diante da fome e do calor é invejável? Desde quando ser mansa é um elogio. Mansa? Senti pelas mães, querendo um outro filho, incapazes de olhar para os seus  bebês, de escutar seus barulhinhos reclamando o direito sair dos carrinhos e aproveitar a praça. Senti por Malu e por Leo que dali do carrinho ouviam os shhhhs das mães que ao terem a conversa interrompida balançavam as crianças em um tipo de consolo desagradável e sem sentido. Que dali ouviam as mães desejarem que fossem outro. Senti por mim que, atenta à conversa e desatenta ao exercício da empatia, fui inábil no meu mantra de observar sem julgar. Quem sabe se não estavam jogando conversa fora, quem sabe se não criticavam veladamente a postura da menininha…

De qualquer modo, conheço meu incômodo. Cresci em uma família que tinha também um mantra para chamar de seu. Mães, tias e avós repetiram durante grande parte de minha infância que “A ovelha mansa mama na sua e na alheia. E a brava nem na sua nem na alheia”. Era um chamado para a menina boazinha e mansa que fui durante muitos anos. Que tentamos ser, nós mulheres, durante muitos anos. Um seta iluminada e piscante dando ordens de para onde, como e quando se deve ir. Pois quebrei cada uma das luzes desta danada com alguma dificuldade, mas com muito gosto. Seta no lixo. Em minha casa, para minhas filhas, essa frase nunca foi repetida.

Boazinha, mansa e calada não. Que chorem, reclamem e peguem seus brinquedos de volta. E que façamos também o mesmo. Boa semana queridos.