Familiares de Odigevan Araújo da Silva, de 49 anos, que realizou uma cirurgia para retirada de um câncer na língua em junho deste ano, estão processando a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) por falta de assistência, após o paciente sofrer complicações médicas durante o período pós-operatório.
Segundo um irmão de Odigevan, que não quis ser identificado, ele entrou em coma após a cirurgia, ficando 28 dias na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Roraima (HGR). No dia 17 de julho, Odigevan saiu da UTI ficando em observação no hospital por 38 dias, recebendo alta no dia 23 de agosto.
“Eles nos chamaram no dia 17 de julho para falar que meu irmão não estava reagindo aos medicamentos, que são os mesmos que damos para ele hoje em dia, mas no mesmo dia ele começou a reagir. Aí ele foi para o leito e ficou em tratamento até o dia 23 do oito [agosto], foi quando ele recebeu alta. Desde esse dia até hoje, nós nunca tivemos nenhuma assistência ‘deles’. A gente entrou com um processo para conseguir a alimentação, que é através de sonda, pela Defensoria. Só assim que conseguimos a alimentação dele”, explica o irmão de Odigevan.
Segundo a família, após a alta do hospital o paciente recebeu encaminhamentos para um neurologista, nutricionista, fisioterapeuta, fonoterapeuta e um psicólogo, mas nenhuma das consultas foram marcadas até agora pela rede pública de saúde. Os familiares explicam que, durante as tentativas para marcar as consultas, os funcionários do Hospital alegaram que aquele serviço não era responsabilidade da rede estadual e precisariam de um encaminhamento médico pela Unidade Básica de Saúde (UBS), pois o clínico geral do estado não era válido para aquela solicitação.
“O estado alega que o paciente não é da competência do estado após receber alta, que é para ter atendimento pelo município. Quando a gente vai na UBS eles alegam que o acompanhamento é pelo estado. Com muita luta a médica da UBS que atende ele tentou marcar a consulta, mas ele foi colocado na lista de espera, sendo que ele é atendimento prioritário”, finalizou o irmão de Odigevan.
Odigevan passou a ter episódios de epilepsia durante os meses que está em casa, sob os cuidados dos familiares, e chegou a ter diversas paradas cardio-respiratórias por conta da falta de acompanhamento profissional. Segundo o irmão de Odigevan, a família gasta mais de R$2 mil por mês com os medicamentos, insumos, higiene e com o equipamento de alimentação por sonda, para cuidar dele.
De acordo com o advogado da família, Pedro Quirino, a situação é grave e de desamparo por parte do estado, o que levou ao atual estado do paciente.
“A defesa conclui que houve negligência por parte dos agentes do estado e prepara as medidas jurídico-legais em decorrência da conduta irresponsável e criminosa praticada contra um cidadão, pelo Poder Público estadual”, ressaltou Pedro.
Outro lado
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que prestou suporte ao paciente durante o período de internação no Hospital Geral de Roraima. Em relação ao pedido da família com o suporte de alimentação enteral e fralda geriátrica, a secretaria afirmou que foi solicitado um laudo mas que não foi apresentado.
Confira a nota completa abaixo.
A Secretaria de Saúde esclarece que o paciente passou por procedimento cirúrgico em função do quadro grave e avançado de um câncer na língua.
Após o procedimento e em consequência do quadro clínico grave, apresentou complicações que que ocasionaram uma parada cardiorrespiratória, tendo recebido assistência médica imediata no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento.
Sobre o pedido de fornecimento de alimentação enteral e fraldas geriátricas, a Sesau informa que em resposta à demanda, solicitou o laudo com as devidas características para ser feito o fornecimento. Contudo, a Sesau não obteve resposta oficial, o que impossibilitou o atendimento da demanda.
Entretanto, é importante pontuar, que os familiares podem procurar a UBS do bairro em que o paciente reside e solicitar o fornecimento, uma vez que se trata de atribuição da atenção primária à saúde, sob a gestão municipal de Boa Vista.
Sobre a assistência médica, como a realização de consultas com especialistas, a Sesau informa que se encontra disponível para fazer os agendamentos necessários que forem solicitados pelos médicos assistentes e que segue o fluxo de marcação respeitando os critérios de gravidade, e de classificação de risco conforme orientação do Ministério da Saúde .
Acerca da alegação de negligência ou erro médico, a Sesau orienta aos familiares a registrarem a reclamação na Ouvidoria Geral, na Direção Geral do HGR ou procurar a Sesau para mais esclarecimentos.