PSICÓLOGO EXPLICA

Síndrome da Boazinha: quando a necessidade de agradar o outro se torna um problema

Aqueles que sofrem dessa síndrome, que é mais comum em mulheres, muitas vezes se encontram em um ciclo onde não conseguem desapontar os outros

Aqueles que sofrem deste mal, mais frequentemente visto em mulheres, têm um padrão de ações onde existe uma incapacidade de desagradar o outro (Foto: Divulgação)
Aqueles que sofrem deste mal, mais frequentemente visto em mulheres, têm um padrão de ações onde existe uma incapacidade de desagradar o outro (Foto: Divulgação)

A Síndrome da Boazinha, caracterizada pela necessidade excessiva de agradar os outros, pode se tornar um problema significativo. Se você se identifica como alguém que está sempre buscando a aprovação dos outros, tem dificuldade em dizer não e frequentemente coloca as necessidades dos outros antes das suas próprias, pode estar enfrentando essa síndrome.

É importante notar que esse padrão de comportamento não é um transtorno psiquiátrico, mas sim um comportamento compulsivo, como explicado pelo psicólogo Filipe Colombini.

Aqueles que sofrem dessa síndrome, que é mais comum em mulheres, muitas vezes se encontram em um ciclo onde não conseguem desapontar os outros. Eles têm uma necessidade intensa de aprovação e evitam a rejeição a todo custo, sacrificando seus próprios sentimentos, pensamentos e valores para obter validação, elogios e atenção dos outros.

Segundo o psicólogo, geralmente quem desenvolve esse padrão de comportamento tem uma autoestima baixa e enfrenta dificuldades com o autoconhecimento. Além disso, muitas vezes há uma dependência emocional, onde a pessoa tem um círculo social limitado e poucas habilidades para lidar com diferentes situações, como destaca Colombini.

Como resultado, essas pessoas muitas vezes se encontram em relacionamentos abusivos, com medo de perder o afeto ou a atenção dos outros. Eles podem acabar sendo vítimas de manipuladores e aproveitadores, pois sua necessidade desesperada por atenção e afeto os torna vulneráveis a essas relações de exploração.

Em resumo, a Síndrome da Boazinha pode levar a uma série de problemas emocionais e relacionais, e é fundamental buscar ajuda para desenvolver uma autoestima saudável, melhorar o autoconhecimento e aprender a estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos.

Atenção: Ser prestativa não é necessariamente um sinal da “Síndrome da Boazinha”.

Filipe enfatiza que o simples ato de ajudar não indica, automaticamente, um problema subjacente. “Quando uma pessoa age em linha com seus valores e oferece sua ajuda de forma voluntária às pessoas que valoriza, sem comprometer suas próprias vontades, está tudo bem”, afirma o especialista. “Ajudar os outros de forma equilibrada, sem sacrificar seu bem-estar emocional, é algo positivo que enriquece nossa experiência como seres sociais”, conclui.

É importante ressaltar que nossa identidade é moldada através das interações com os outros, um processo que começa na infância, quando estabelecemos laços com nossos pais e cuidadores. É nessa fase que muitas vezes surge a origem do comportamento de querer agradar compulsivamente. “No passado, esse comportamento pode ter sido um mecanismo de defesa em ambientes onde o indivíduo experimentou falta de apoio emocional e validação de seus sentimentos”, explica o psicólogo.

Quais são os possíveis danos causados pela “Síndrome da Boazinha”?

De acordo com o especialista, aqueles que têm o padrão de sempre querer agradar podem desenvolver sintomas de ansiedade, transtornos do humor e correm maior risco de se isolar socialmente, sentir-se desesperançosos e até mesmo apresentar tendências suicidas ou autolesões. É por isso que buscar tratamento é fundamental.

Filipe explica que o tratamento desse padrão de comportamento pode ser abordado tanto por meio da psiquiatria, que pode envolver a prescrição de medicamentos nos casos em que há um distúrbio mental subjacente, como no transtorno borderline, no qual a pessoa tem dificuldade em estabelecer limites nas relações e é muito afetada pelas opiniões e julgamentos alheios, colocando-se constantemente em prol do outro.

Por outro lado, em certos casos, a abordagem terapêutica é mais indicada, sendo que a combinação entre o acompanhamento de um psicólogo e de um psiquiatra geralmente traz melhores resultados. Uma modalidade de tratamento psicológico eficaz nesses casos é o Acompanhamento Terapêutico (AT), no qual o psicólogo atua como um acompanhante terapêutico, oferecendo suporte além do consultório e enriquecendo o ambiente da pessoa.

“Isso envolve o desenvolvimento de habilidades sociais, educação emocional e a exploração do autoconhecimento de forma verbal e experiencial, tudo o que o psicólogo AT realiza”, afirma Filipe.