Com cerca de 190 anos desde a regularização da profissão, o carteiro é responsável por entregar correspondências, pacotes e encomendas aos destinatários. Desempenha também um papel importante no sistema de comunicação e logística do país. Entretanto, a profissão vai muito além disso.
Entre os milhares de profissionais do Correios, está Alexandre Rodrigues, que atua há mais de 26 anos na função de ir pessoalmente de casa em casa para entregar encomendas todos os dias. Em comemoração ao Dia do Carteiro, celebrado nesta quinta-feira (25), o profissional compartilhou com a FolhaBV os momentos mais memoráveis da carreira.
A história de Alexandre com a profissão começou na década de 1990, por indicação da mãe. Segundo ele, quando a matriarca soube do concurso do Correios, aconselhou os dois filhos a se inscreverem de imediato.
“Eu lembro que minha mãe ainda estava no trabalho quando ficou sabendo do seletivo. Ela pediu para dar um pulo lá em casa só para nos avisar sobre a prova, já com o dinheiro na mão para fazer a inscrição. Como já estava planejando ficar noivo na época, aproveitei a oportunidade, fiz a prova e me chamaram”, comentou.
Ele relembra que a adaptação à rotina de carteiro foi um processo trabalhoso. Nessa época, Alexandre realizava entregas no bairro Caçari várias vezes ao dia de bicicleta. Nas idas e vindas carregando encomendas, ele emagreceu 12kg em três meses.
Histórias marcantes
Os anos de experiência como carteiro também renderam momentos de tensão ao Alexandre. Há 12 anos, quando realizava entregas de motocicleta no bairro Caimbé, ele quase foi atacado por três cachorros de grande porte. O profissional entrou no quintal de uma casa e foi surpreendido pelos animais dos moradores, que correram em direção a ele. Por sorte, as cordas que seguravam os cães impediram o ataque.
Algumas das histórias também poderiam ter terminado em tragédia. É o caso do dia em que o carteiro entrou em uma casa, cujo portão estava aberto, e foi recebido com uma arma apontada na cabeça dele.
“Eu chamei o dono da casa, mas o interfone estava quebrado e ele não tinha me escutado. Como o portão estava destrancado, fui entrando. Ele já chegou apontando a arma para mim, porque tinha sido assaltado no dia anterior e achou que eu era um dos bandidos”, relembrou.
Questionado sobre a forma como lidou com esse acontecimento e sobre os riscos da profissão, ele disse: “quando você gosta do que faz, trabalha sem medo”. O carteiro afirmou que busca lidar com tudo que acontece no cotidiano de maneira tranquila e se sente acolhido pelos moradores que atende.
Vakinha para custear viagem
A pouco tempo de completar 30 anos de atuação como carteiro, quase 10 só destinados a fazer entregas no bairro Paraviana, Alexandre afirma que é inevitável atingir um nível de intimidade e confiança com os moradores.
“São tantos anos entregando nas mesmas casas, que sei o nome de todo mundo e conheço as famílias. Quando eu estou de férias, tenho até que deixar meu celular guardado em um canto, porque chovem mensagens de gente querendo saber das encomendas que fizeram”, relatou.
O carinho que alguns dos moradores têm pelo carteiro é tanto que até presentes ele já recebeu. Em 2022, Alexandre ganhou um concurso para se hospedar em um resort no Nordeste, porém teria que custear as próprias passagens aéreas.
Durante um serviço de entrega, ele comentou com um casal, que conhece há anos devido ao trabalho. Dias depois, recebeu a notícia de que os mesmos clientes haviam feito uma vakinha para arrecadar dinheiro para custear o trajeto de ida e volta da viagem. Em 15 dias, arrecadaram R$9 mil.
“Com esse dinheiro, consegui pagar as minhas passagens e da minha esposa. Também pude adicionar mais duas diárias de estadia no resort. Me senti um rei naquela viagem, aproveitei muito. Até hoje não caiu a ficha de que aconteceu isso. Fiquei maravilhado com essa atitude que eles tiveram, só me deu mais motivação para continuar fazendo meu trabalho”, disse.
Significado da data comemorativa
Em 25 de janeiro de 1663, data escolhida para simbolizar o Dia do Carteiro, foi criado o Correio-Mor da Monarquia Portuguesa no Brasil. A profissão só foi regularizada no país em 1835, quando teve início a entrega de correspondência nos domicílios.
Luiz Gomes da Matta Neto foi o primeiro “carteiro” do Brasil. Ele já atuava como Correio-Mor em Portugal, depois passou a ser o responsável no Brasil pela troca de correspondências da Corte portuguesa.