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Conheça os bastidores da tradução para Libras da TV Assembleia, canal 57.3

Emissora se tornou referência em Roraima por promover inclusão da população surda em debates do parlamento.

Conheça os bastidores da tradução para Libras da TV Assembleia, canal 57.3

Era abril de 2023, quando a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) deu um passo importante no processo de inclusão de pessoas surdas nos debates promovidos na Casa: os vídeos nas redes sociais começaram a ter tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Onze meses depois, o parlamento estendeu para a TV Assembleia, canal 57.3, a interpretação de sinais para sessões, eventos ao vivo no plenário e reunião de comissões.

O vice-presidente da Associação Suo Jure Surdos de Roraima, André Felipe, conversou com nossa equipe com o auxílio da intérprete de Libras Beatriz Teófilo. Ele afirmou que a iniciativa é muito importante para a inclusão da comunidade surda e uma forma de demonstrar respeito. Além disso, ao visitar a sede do Poder Legislativo, também percebeu que há mecanismos para a inclusão de pessoas com deficiência visual.

Vice-presidente da Associação Suo Jure Surdos de Roraima, André Felipe (Nonato Sousa/ SupCom ALE-RR)

“Em todos os lugares, faltam intérpretes. Vi a interpretação dos vídeos para a Libras que a Assembleia está fazendo para a comunidade surda, por meio de profissionais capacitados. Então que seja profissional formado, com graduação, vi os vídeos, entendi o que estava sendo repassado em Libras. Em outras televisões, não tem [interpretação para Libras], a TV Assembleia é a primeira. A janela precisa ser transparente e um pouco maior para melhor visualização, mas, mesmo assim, é um avanço e agradecemos pela inclusão e pelo pioneirismo em ter esse começo”, declarou.  

Para o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), a inclusão de pessoas surdas é importante para a democratização das pautas de interesse social, pois permite que essa parcela da população conheça o que os deputados discutem e defendem. Ele acredita que a emissora legislativa é um exemplo para outros canais de comunicação audiovisual.

Presidente do Poder Legislativo, deputado Soldado Sampaio (Nonato Sousa/ SupCom ALE-RR)

“Esta Casa sempre esteve atenta às questões de inclusão social, seja aprovando leis estaduais que garantem direitos ou mesmo realizando audiências públicas com foco nas pessoas com deficiência, nos autistas, nos surdos. Sempre foi interesse dos deputados permitir que nossa atuação chegasse ao conhecimento de mais e mais pessoas. A inserção de Libras na programação da TV Assembleia é um marco para a sociedade roraimense, bem como uma ferramenta essencial na implementação de políticas públicas”, declarou Sampaio.

E não é um processo fácil…

Beatriz Teófilo, Alison Paulino e Elen Cardoso se alternam a cada 15 minutos para as traduções (Eduardo Andrade/ SupCom ALE-RR)

Para a tradução na TV Assembleia, o Legislativo estadual conta com três intérpretes, que se revezam para transmitir as mensagens das sessões, audiências públicas ou reunião de comissão. Beatriz Teófilo, Alison Paulino e Elen Cardoso se alternam a cada 15 minutos para as traduções, entretanto esse tempo pode ser maior, dependendo das situações. Todos são formados pela Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Sendo a Casa do Povo, a ALE-RR tem discussões em diferentes áreas – saúde, educação, segurança, meio ambiente -, o que exige um preparo ainda maior para conseguir transmitir todas as mensagens com a máxima clareza para os surdos. Para isso, são estudados e analisados sinais que representam melhor determinada ideia para a população surda, pois há uma diferença enorme entre aquilo que é dito na Língua Portuguesa e que precisa ser traduzido para a Língua de Sinais.

Elen Cardoso fala sobre estudos para melhorar entrega da mensagem (Marley Lima/ SupCom ALE-RR)

“Nas sessões, os deputados usam bastantes termos jurídicos, palavras que são típicas na criação de leis, então nós três procuramos estudar muito, nos reunir e analisar o que fizemos. Depois de uma sessão, nos sentamos e discutimos sinais que podiam ter sido usados no lugar de outros, porque faria mais sentido para a população surda. Estudamos antes da sessão, fazemos a interpretação e depois analisamos, para nos aperfeiçoarmos, já que às vezes temos milésimos de segundo para uma interpretação”, explica Elen.

Esse processo, chamado de tradução simultânea, em que o intérprete acompanha o raciocínio de quem fala, exige alto nível de conhecimento e estratégias tradutórias, avalia Alison. Em alguns casos, segundo ele, são poucos segundos para tomar a decisão de qual sinal adequado usar. Alison acrescenta que isso difere da tradução consecutiva, quando existe mais tempo para pensar na interpretação.

Alison comenta os desafios diários da profissão (Marley Lima/ SupCom ALE-RR)

“O palestrante fala algumas frases, pausa, o intérprete ouve e vai ter tempo para escolher sua melhor forma de tradução. Normalmente, recebemos com antecedência os vídeos da Assembleia, o que é ótimo, porque temos tempo de estudar, ler o texto que contextualiza aquele vídeo, ouvimos o áudio e conseguimos deixar a tradução mais eficaz por causa do tempo”, complementa o profissional.

Pesquisa, vocabulário… a busca pelo melhor caminho

A tradução gravada, como é chamada pelos intérpretes, permite que eles pesquisem o sentido da mensagem que será transmitida, vocabulário, qual sinal pode ser utilizado – alguns deles desconhecidos até pelos profissionais, que vão em busca de aprender. Beatriz detalha que há palavras na Língua Portuguesa que não existem na Língua de Sinais, e que em muitos casos é preciso fazer o que denominam de marcação. 

Beatriz Teófilo detalha como é feito o processo de gravação (Marley Lima/ SupCom ALE-RR)

“Nós vamos buscar o que significa uma palavra usada, por exemplo, pelo parlamentar, entender a ideia que ele deseja transmitir, para, assim, encontrar a melhor forma de entregar essa mensagem ao público surdo por meio da Libras. Em português, falamos primeira, segunda ou terceira infância, o que para os surdos não existe. Usamos o sinal de criança e fazemos marcações, ou seja, adicionamos ao sinal o elemento de idade, quando necessário especificar que se trata de determinada fase da infância”, explicou Beatriz.

Há outras estratégias adotadas pelos intérpretes, como a datilologia. Já ouviu falar dela? É o alfabeto em Libras. Dessa forma, quando não há um símbolo para determinada palavra, eles recorrem ditar, em símbolos, aquela palavra, até ser estudado um que a melhor represente. Outros dois mecanismos são o apontamento, como indicar que na tela está o endereço, e os elementos visuais, quando se indica no vídeo uma imagem importante.

“A modalidade da língua de sinais é visual-espacial, os surdos entendem o mundo por meio de imagens, pelo que captam através da visão. Quanto mais pudermos deixar os signos [as palavras] claros, melhor para eles. No texto de abertura da sessão, por exemplo, tiramos palavras que não tinham sentido em Libras e deixamos o essencial para a mensagem. No entanto, é preciso avançar no entendimento da Língua Portuguesa, isto é, ele precisa ser claro, objetivo e compreensível. Com isso, vamos conseguir transmitir melhor a ideia na Língua de Sinais. Se tiver mais emoção, se for uma música, a emoção e interpretação corporal também fazem parte”, pondera Beatriz.