PRISCILLA TORRES
Colaboradora da Folha
Entre o barulho do trânsito e o calor característico da cidade de Boa Vista, está sentado em um pedaço de tronco de árvore, o artista plástico Hugo Rojas, 51 anos, venezuelano. Ele conta que chegou à cidade há cerca de seis meses e gosta de morar aqui, divide uma casa alugada com seu filho de 24 anos que trabalha como caseiro em sítios.
Rojas relembra que descobriu o ofício da arte muito cedo, desde criança, e que aos seis anos, já desenhava muito bem na escola, o que chamava atenção dos professores que o incentivaram a praticar a pintura. Rojas começou a tomar gosto pela pintura, porém como um passatempo, que conciliava com a função de motorista em seu país de origem.
Com o passar dos anos, começou a vender quadros na Venezuela, se tornando conhecido no país e costumeiramente chamado para expor em eventos artísticos. Com a crise financeira em seu país, Rojas conta que ficou mais difícil viver da arte e sentia na sua rotina a dificuldade de vender seus quadros.
“Estou nesta arte há 35 anos, porém na Venezuela ficou difícil pintar, o material está muito caro e as pessoas já não têm dinheiro para comprar quadros”, lamenta Rojas. Com alegria ele diz que está gostando muito de morar em Boa Vista, que a cidade é tranquila e já fez muitas amizades.
Ao ser questionado sobre sobreviver da sua arte todos os dias na rua e os perigos que corre, Rojas relata com sorriso no rosto que acontece uma vez ou outra de tentarem roubar seus materiais, mas que também recebe muito carinho e respeito onde estabeleceu seu posto de trabalho, a calçada da Igreja Catedral Cristo Redentor, no Centro Cívico.
Rojas começou a tomar gosto pela pintura como um passatempo e conciliava atividade com a função de motorista na Venezuela (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)
“Todos me respeitam bastante, já fiz inúmeras amizades e recebo muita ajuda desde que cheguei aqui”, acrescentou. Entre uma pincelada e outra no quadro que está pintando no momento, um retrato de família que foi encomendado por clientes locais, Rojas conta que apesar de estar somente há seis meses na cidade, já vendeu mais quadros que em seus 35 anos, como artista, na Venezuela.
O artista plástico diz que consegue manter-se com a venda de quadros, paga despesas como aluguel e mantimentos, e ainda mandar dinheiro para sua família na Venezuela – sua mulher e mais dois filhos se sustentam no país vizinho da venda da arte de Rojas aqui no Brasil –.
Quando questionado sobre o sentimento de viver essa situação com a família à distância, o artista diz que está fazendo um esforço para trazer a mulher e os outros dois filhos para o Brasil para viverem todos juntos novamente.
Depois de uma pausa para uma longa conversa, Rojas aparenta ser tímido e de fala sempre mansa, sempre olhando por cima dos óculos de grau e pegando uma delicada quantidade de tinta em sua aquarela improvisada, um pedaço cortado de compensado. Quase sem mais ter o que falar sobre sua trajetória, é questionado sobre seus maiores sonhos, e com sorriso tímido responde que entre vários sonhos o maior é viajar pelo Brasil expondo sua arte.
“Ainda sonho com meus quadros em uma galeria de arte bem grande e que todos possam conhecer meu trabalho”, concluiu emocionado o artista.