Os artistas indígenas Carmézia Emiliano e Isaias Miliano entregaram suas obras contempladas pelo prêmio Anísio Fernandes de Artes Visuais, do Governo do Estado, por meio da Secult (Secretaria de Cultura) com recursos provenientes da Lei Aldir Blanc.
A obra “Fazendo Farinha”, de Carmézia Emiliano, registra como o povo Macuxi produz o alimento, que é central em seus hábitos alimentares. “Eu retrato nas minhas telas a cultura indígena, fazendo beiju, fazendo farinha, caxiri, bebida indígena, dança da de parixara, tudo que eu vivi eu retrato na tela para não esquecer a minha cultura”, explicou a artista.
Isaias construiu a obra “Wazaká, a lenda da árvore da vida”, um painel de madeira usando a técnica de entralhe de baixo e alto relevo. A obra traz elementos da iconografia de Roraima e grafismos oriundos de inscrições rupestres.
“Uso o aproveitamento de madeira que seria descartada. Então, apresento hoje esse tema, que mostra o Monte Roraima, tem as orquídeas com a floresta, tem os buritizais, a mãe da mata, o lavrado, o caimbé e também o caju que, é o símbolo de Roraima”, detalhou Isaías.
“Com os editais lançados pela lei, foi possível ajudar, mas também estimular a retomada da produção artístico-cultural em Roraima. Queremos valorizar os nossos talentos, fomentar novos projetos, dar visibilidade aos já existentes, e agradecer os esforços feitos por toda a cadeia produtiva do setor nestes meses tão difíceis que estamos passando” explicou o secretário de Cultura, Sherisson Oliveira.
Para o diretor de Promoção Cultural da Secult, Enos Almeida, o momento é extremamente importante para a cultura do Estado. “Não é só um registro. Você acaba criando um acervo dessa produção, desses artistas e segmentos variados e você tem todo o potencial da arte roraimense com visibilidade para a população em geral”, ressaltou.
Conheça os artistas:
ISAIAS MILIANO – O roraimense Isaias Miliano deixou ainda jovem a comunidade em que nasceu, no município do Uiramutã, para morar em Boa Vista. Nessa mudança, ele adotou a arte como sua principal profissão. Segundo ele, as artes plásticas dão ênfase à sua verdadeira paixão: unir a arte com a importância de preservar a cultura indígena e o ambiente em que vivem. Ele utiliza matéria-prima de refugos de marcenarias e serralherias, reaproveitando-os para a criação de obras com temas de grafismos indígenas e rupestres da região.
CARMÉZIA EMILIANO – Carmézia Emiliano é indígena Macuxi e nasceu em 20 de abril na Guiana. Sua família imigrou para a aldeia Japó, no município de Normandia, em Roraima, na década de 70 e desde 1988 ela reside em Boa Vista. A artista conquistou por quatro vezes o prêmio na Bienal de Arte Naif do Salão Sesc de Piracicaba (SP) e foi agraciada com o Prêmio Buriti da Amazônia de Preservação do Meio Ambiente, em 1996, na categoria revelação. Ela figura no topo da lista dos maiores artistas Naifs brasileiros. O estilo é conhecido por lançar obras com aquele aspecto inacabado, primitivo, até mesmo singelo e descompromissado. A relação de Carmézia com a arte está intimamente relacionada com a sua trajetória. Ao conhecer as obras de arte e a vida da artista, têm-se a boa impressão de que Carmézia pinta a si própria, em vida e em memória.