Peixe, tucupi e muita pimenta são ingredientes de um dos principais pratos da culinária indígena de Roraima, a damurida.
A receita de origem wapichana, é famosa por ser picante e costuma desafiar os paladares pouco familiarizados com o tempero indígena.
“Mas quem prova não se arrepende”, garante a culinarista Kalu Brasil, que prepara o prato há mais de quarenta anos.
A receita é de família, Kalu aprendeu a fazer damurida com a mãe, uma índia da etnia wapichana.
“Eu digo que nasci cozinheira. Eu via minha mãe comer damurida e comia junto com ela. Era uma forma de vivenciar os costumes indígenas”, conta.
Das comunidades para as mais diferentes mesas. Entre os dias 6 e 12 de setembro, a damurida será um dos pratos servidos no Festival Gastronomico Brasileño, realizado em Caracas, na Venezuela.
Dona Kalu é chef convidada do evento e elaborou um cardápio recheado de delícias da culinária brasileira.
São 27 pratos diferentes, dois de origem indígena: a damurida e o xibé de carne de sol (receita a base de água e farinha de mandioca).
Mas para preparar comidas típicas de Roraima em solo venezuelano, alguns ingredientes também precisam pegar o avião.
Na mala, ela leva farinha amarela, tucupi, manteiga da terra, tapioca e muita pimenta.
Aliás, o ingrediente mais picante é também o mais versátil: malagueta, murupi, olho de peixe, gikitaia são algumas das variedades de pimenta que vão temperar a damurida no país vizinho.
Os produtos que têm a cara da Amazônia, só poderiam ser comprados em um lugar: na feira.
Acostumada a representar o estado em eventos nacionais e internacionais, dona Kalu faz questão de escolher pessoalmente todos os ingredientes que vão fazer parte das receitas.
As compras na feira são regadas à pesquisa de preços, bate-papo com os feirantes e, é claro, atenção na qualidade dos produtos.
“Tem que experimentar tudo, pra saber se é bom”, ensina.
O Festival Gastronomico Brasileño é uma parceria entre a Embaixada do Brasil na Venezuela, Embratur e a Prefeitura de Boa Vista.
Para a superintendente de Turismo da Fetec, Alda Amorim, o evento é a oportunidade de divulgar os sabores roraimenses lá fora.
“Um dos itens em que o turista mais gasta é na gastronomia. Nós estamos trabalhando para fortalecer ainda mais esse produto, fazendo com que as pessoas conheçam e gostem da nossa culinária”, disse.
Para a chef Kalu, levar a culinária típica de Roraima para outros países é uma forma de mostrar e manter viva a tradição de seus antepassados.
“Eu estou feliz em mostrar as minhas raízes indígenas, os costumes do meu povo. Fazemos essas comidas com responsabilidade e com muito amor. Eu espero que eles gostem”, finalizou.
Fonte: Semuc