Cultura

‘Bolsonaro matou meu povo’, diz Davi Kopenawa ao receber título da Unifesp

Honraria da terceira melhor universidade do Brasil na atualidade busca reconhecer a contribuição do líder em prol da causa indígena e do meio ambiente

O xamã e ativista yanomami Davi Kopenawa recebeu, em São Paulo, o título mais importante da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo): o Honoris Causa. A honraria da terceira melhor universidade do Brasil na atualidade busca reconhecer a contribuição do líder em prol da causa indígena e do meio ambiente. É o segundo título do mesmo gênero concedido a ele – sendo o da Universidade Federal de Roraima (UFRR) o primeiro, em 2022.

Em seu discurso, Kopenawa repetiu a acusação contra o Governo Bolsonaro sobre a responsabilidade pela crise humanitária na Terra Indígena Yanomami. “Minha alma está de luto. Morreram 577 crianças durante quatro anos. Jair Bolsonaro matou meu povo, minhas crianças, minha natureza, meus rios, igarapé, peixe. E derramaram a doença, o veneno – que é o mercúrio”, declarou.

O líder indígena citou o interesse da gestão federal anterior em apoiar o Marco Temporal, a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que estabelece que indígenas teriam direitos sobre terras aqueles que já as ocupassem em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. “Ele [Bolsonaro] quer roubar mais as nossas terras yanomami. Diz que a terra é muito grande para pouco índio, mas o índio está protegendo, a nossa vida e o planeta Terra”, disse.

Davi Kopenawa usou a língua materna yanomami para iniciar a fala na cerimônia e disse estar emocionado pelo reconhecimento ao seu ativismo. “Agora estamos em festa, agradecendo a nossa eterna mãe, a nossa riqueza, a beleza da floresta que faz o bem, harmonia, me sinto mais forte pra continuar a lutar”, declarou ele, que defendeu a retirada total dos garimpeiros do território yanomami.

“Garimpo ilegal não vai trazer benefício para o povo indígena e o povo da cidade também”, disse ele, que defendeu novas demarcações territoriais indígenas para evitar crimes ambientais e contra os povos indígenas. “Se não controlar o nosso Brasil, a floresta vai sumir”.

A cerimônia também contou com a presença de autoridades como o procurador regional da República do MPF (Ministério Público Federal), Marlon Alberto Weichert, e a reitora da Unifesp, Raiane Patrícia Severino Assumpção. “É o maior título que temos na nossa instituição. O significado dele, além da entrega do título, é a importância do compromisso e do nosso vínculo enquanto instituição com a causa que o senhor tem defendido”, discursou Raiane.