Para quem frequenta as redes sociais é comum observar que a cobrança por posicionamentos e opiniões sobre todos os assuntos por parte de influenciadores, famosos no geral e até mesmo anônimos é algo muito recorrente. Internautas cobrando coerência tanto estética quanto intelectual por parte das pessoas seguidas é um fenômeno muito comum. Há uma constante busca por erros e tropeços que muitas das vezes nem são tão graves, mas acabam desencadeando uma onda de ódio e linchamento desenfreado.
O sociólogo Linoberg Almeida explica que essa cobrança exagerada por perfeição acontece por que a internet é uma extensão da vida real. Ele explica que a dita cobrança se dá como consequência da presença dos mais diversos grupos sociais e indivíduos na internet, que se envolvem em debates sobre diversos assuntos do cotidiano.
“A internet ganha jeito de praça pública, lugar de interação, aprendizado, sociabilidade, julgamento, convivência. Como todo mundo tem algo a dizer, com um celular na mão, saber a opinião do outro atiça curiosidades. O que não significa que estamos todos preparados para respeitá-las”. analisa o professor.
“Vivemos uma polarização que gera comportamentos apaixonados”, diz o sociólogo Linoberg Almeida (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)
Muitos desses ataques ocorrem por pessoas que dizem estar “lutando” por alguma causa. Pequenos detalhes podem ser lidos como grandes pelos internautas, por isso essas opiniões não embasadas ditas de forma irresponsável na internet acabam banalizando tópicos como feminismo, luta contra o racismo e contra a LGBTI+fobia..
“Vivemos uma polarização que gera comportamentos apaixonados sobre tantos assuntos. E normalmente a internet e as redes sociais não permitem aprofundar pautas. Fazer curso não é estudar. Tem que pensar, observar, avaliar, ouvir, refletir. Poucos caracteres e dedos nervosos podem fazer estragos. As hashtags não engajam como manifestações, as pautas sociais são levantadas, mas elas se arrefecem num clique. Ninguém deve ser obrigado a nada. Nem a se posicionar”, explica o professor.
Ainda segundo Linoberg, o medo do linchamento virtual por pequenos detalhes da vida online acaba sendo percebido pelas pessoas como uma “morte social” de quem os sofre.
“A sociedade da lacração, do “mimimi”, do vigiar e punir online traz à tona uma questão de identidade, personalidade, de relações de poder. Essa coisa de crescer na dor alheia legitima o violento, mas abre a chance de se afastar quem apela e buscar acolhimento, identificação com quem você se assemelha”, diz.
Para o professor, o entendimento é que não existe uma “cultura do cancelamento” como muitos dizem. “Existe o linchamento virtual por parte de quem ostentar achar que tem consciência sobre algo, o que é uma doce ilusão”, conclui o sociólogo.