A maioria dos pais tem consciência da importância de encorajar a independência dos filhos desde cedo, mas muitas vezes não sabe a hora certa de começar e nem como fazer isso. O primeiro passo é saber que a independência acontece aos poucos e o melhor momento de estimular os pequenos é nas atividades mais simples do dia a dia. Um bebê pode ser capaz de segurar a mamadeira sozinho, por exemplo.
Hábitos de independência influenciam no desenvolvimento da criança nas mais diversas áreas, como coordenação motora, raciocínio lógico, organização e responsabilidade, explica a pedagoga Tatiana Custódio.
Sim, seu filho é como parte de você. Talvez por isso seja tão difícil deixar que ele se desprenda. Mas se você reconhece a importância de estimular a independência da criança desde cedo, há pelo menos cinco maneiras simples de colocar este incentivo em prática.
– Ensine seu filho a organizar objetos
A partir de um ano e meio de idade, seu filho já compreende ordens simples e pode começar a participar de pequenas tarefas como, por exemplo, guardar os próprios sapatos no local certo e a colocar a roupa suja no cesto. Você pode estimular ajudando e dando orientações, mas deixe que ele faça sozinho.
Dos dois aos três anos, a criança pode aprender a organizar os próprios brinquedos. Esta atividade corriqueira desenvolve o pensamento lógico matemático (separação das peças segundo algum tipo de critério – como cor, forma ou tipo de brinquedo), exige planejamento, atenção e responsabilidade, acrescenta Tatiana.
– Arrumar-se sozinho
Vestir-se e calçar-se sozinha faz com que a criança desenvolva a coordenação motora, a lateralidade, a organização do pensamento lógico. Embora simples, estes atos requerem que a criança processe e organize uma série de informações mentais antes de colocar as ações em prática.
Você pode ajudá-lo nestas atividades ensinando pequenos truques ao seu filho, por exemplo: a costura da roupa fica por dentro e a etiqueta para trás;
a costura central da calça fica embaixo do umbigo; a estampa da camiseta normalmente é para frente; Sempre que possível, prefira roupas com elástico ou velcro, já que as crianças normalmente têm dificuldades em lidar com zíperes, botões e cadarços.
O primeiro passo é saber que a independência acontece aos poucos (Foto: Divulgação)
– Hora do banho e de escovar os dentes
Esta é uma atividade que ele precisa aprender com calma e paciência. Hoje, na hora do banho, passe a bucha e o sabonete para o seu filho e oriente-o, deixando que ele se lave sozinho. O mesmo se aplica ao momento de escovar os dentes.
– Ensine seu filho a fazer escolhas
Se você quer que seu filho tenha autoconfiança, deve demonstrar que acredita neles e em sua capacidade de tomar boas decisões – respeitando as limitações de cada idade. Uma maneira eficaz de incentivar a independência da criança é deixá-la expressar seus pontos de vista, suas ideias.
Mantenha o diálogo com seu filho e pare para escutá-lo. Estimule seu filho a falar; peça a opinião dele e espere pela resposta. É importante elaborar bem a pergunta para que a resposta seja bem pensada (por exemplo, em vez de perguntar “como foi na escola hoje?”, pergunte “qual foi a coisa mais legal da escola hoje?”).
– Incentivar a resolver pequenos problemas
Permita que seus filhos superem sozinhos pequenas dificuldades, sem interferências (sem deixar de protegê-lo em situações de perigo, claro). Ao incentivá-lo a pensar sozinho em soluções para problemas singelos, você cria condições favoráveis para o desenvolvimento da autonomia da criança.
É importante lembrar que trabalhar a autonomia dos filhos é um exercício de tentativas que exige paciência. Provavelmente seu filho não vai conseguir dominar determinada tarefa na primeira vez e isto faz parte do processo. Toda a aprendizagem envolve várias fases: a iniciativa, as tentativas, lidar com a frustração do erro, ser perseverante para tentar de novo, saber buscar ajuda e tentar novamente até conseguir.
Por: Priscila Domingos/ Dicas de Mulher
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ARTIGO
I want to break free
Por Roberta D’albuquerque*
Eram duas da tarde do último sábado e a sala do cinema estava cheia. Sentei na F1, porque se tem uma coisa da qual tenho alguma dificuldade de abrir mão é a escolha da cadeira do corredor (fácil de sair rapidinho se for preciso). Ninguém me ensinou esse truque. Embora desde muito cedo tenha sempre optado pelas laterais. Shows, salas de aula, avião. Chego, localizo a saída e me ponho ao alcance dela.
Os trailers cismaram em demorar mais do que o normal. Começou o filme. Nenhuma afeição extra à banda me levou àquela escolha, pensei em me arrepender, pensei em implicar, mantive o celular ligado, olhei para ele um tanto de vezes. Até que a história desenrolada na tela fez ser possível sentir o doce da pipoca ficar mais doce, a água mais fresquinha, o pescoço mais leve no espaldar da poltrona. Cantei baixinho os refrões, me entreguei à delícia de uma sessão solitária e descompromissada no meio da tarde. Nossa, fazia tempo.
Era sobre liberdade e confiança (em si e no outro). Era sobre lidar com as consequências dos próprios atos. Era sobre celebrar a vida em toda a sua complexidade. Era sobre estar diante de um fim. Lindo o filme. Nem perto da lista dos memoráveis, ainda assim comovente. De minha tarde de sábado, posso dizer que foi das mais lindas. Posso dizer que dificilmente esquecerei dela.
Na sala ao lado, estava minha filha mais velha. Optou por outro filme. Com a naturalidade, a independência e a segurança herdadas do pai (que herança linda Henri, obrigada), propôs que cada uma de nós bancasse o seu desejo. “Veja o seu mami, eu vejo o meu”. Sua primeira sessão de cinema sozinha, minha paulistana raiz. Não quis a poltrona do corredor. “Pra mim, tanto faz”. Sinalizou ontem o fim da infância. Uma menina grande dona das suas próprias escolhas. Break free Lalá, desliga o celular, inventa teus próprios truques, entra sem pensar em sair. Vai. A vida é pipoca doce.
*Roberta D’albuquerque é psicanalista e assina uma coluna em vários jornais no país e na Folha de Boa Vista