Pessoas com característica de dependência afetiva se tornam propensas a serem reféns das vontades dos outros, é o que diz o psiquiatra e membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria, Alberto Iglesias.
Segundo ele, pacientes com esse transtorno precisam constantemente de afirmação para tomar uma decisão, e estão sempre a mercê de agradar e se submeter.
“A dependência pode desencadear quadros de depressão, fobias e pânico, pois o indivíduo tem dificuldades em expor suas vontades, além do receio em ser rejeitado pelas pessoas, isso o torna bem propenso ao medo do abandono e do desamparo”, explica.
O médico explica que, a autoconfiança do paciente fica sempre em baixa, e por isso, eles não conseguem confiar em si e em suas ações, desacreditam do seu potencial. “Normalmente pessoas assim buscam ajuda terapêutica devido aos outros sintomas que foram desencadeados pelas frustrações ou quadros de estresse. São bem mais emotivas e tendem a se depreciar, se desvalorizar com afirmações negativas sobre si. Devido à dependência, não conseguem “dizer não” ou discordar de outros pontos de vista, normalmente permanecem em relacionamentos abusivos ou se colocam em postura submissa, tudo isso, para preservar a relação, justamente pelo medo de ficarem sozinhos”, conta.
O transtorno não se relaciona aos medos de velhice, ou de ficar sozinho em alguns momentos, por exemplo, mas a um tipo de personalidade mais específica e de certa forma desadaptada emocionalmente. Permanecer em relacionamento conjugal quando tudo está desmoronado, mostra traços de aceitação daquilo que machuca, do que não faz bem, mas o paciente ainda fica porque está enraizada e não consegue tomar decisões para sair desse contexto, e não se considera capaz o suficiente para se desvincular e encontrar um relacionamento sadio.
Cada pessoa tem seus traços de personalidade, às vezes mais acentuados, às vezes menos, o importante é não se apegar ao conceito de que isso é algo ruim, mas avaliar o que disso te faz mal ou que poderá ser melhorado em sua vida.
“É preciso entender até que ponto isso é prejudicial, já que a frustração é um dos pontos que a maioria de nós sente dificuldades em lidar, imagine para um dependente. Torna-se uma busca sem fim para evitar as dores emocionais, quanta raiva de si e sentimentos de incompetência ficam guardados pelas frustrações que não são atendidas? Pensamentos de que “não darei conta”, “não me enquadro”, sempre consideram que são acometidos por defeitos”, ressalta.
Para o especialista, a maior parte dos pensamentos de uma pessoa muito dependente são irreais e quase sempre emocionais. Nesse caso, o paciente precisa buscar manter um equilíbrio entre o lado racional e emocional, isso poderá ajudá-lo em decisões para atender aos seus desejos, seria um bom caminho para a melhora dos quadros de ansiedade e depressão.
“Em casos de personalidade dependente, deve-se trabalhar a autoconfiança, o apego excessivo, a reestruturação mental de modo que se torne mais adaptado para viver. Trabalhar a autonomia e melhora nas decisões é um bom passo para se adequar e aprender a ser resiliente com as frustrações”, diz.
Segundo o médico, não se trata de praticar um desapego infrutífero de pessoas e coisas que o dependente gosta, mas sim de buscar e reestruturar o amor próprio e a mudança nos pensamentos de autoconfiança. “Você pode acreditar que ser assim, ou ter essa personalidade é prejudicial, ou que até então tem funcionado bem para você. Cada ponto seria avaliado juntamente com seu psiquiatra para melhorar suas competências de assertividade e autoconfiança, isso te faria acreditar mais em você e em suas conquistas, o que seria bem positivo para sua vida”, finaliza.