Cultura

Decisão tem que ser muito pensada, dizem adeptos

Antes de passar por procedimentos, é imprescindível procurar um lugar regulamentado, limpo e com boa reputação, diz dermatologista

LEO DAUBERMANN

Editoria de Cidades

Tatuagens e perfurações nunca saíram de moda. São tão antigas quanto a história do homem, no entanto, já foram motivo de muito preconceito. Qualquer um que decidisse tatuar a pele ou colocar um piercing era tachado de drogado, bandido ou vagabundo. O mundo mudou e as opiniões também. Hoje em dia, esses procedimentos são comuns e têm um número cada vez maior de adeptos.

O empresário Thiago Henrique Pereira Rodrigues, 28, está na sua terceira tatuagem. Ele conta que o processo de escolha, tanto das duas primeiras como dessa última, feita durante nossa reportagem, foi bem demorado. Ele disse que pesquisou bastante antes de decidir o desenho, local e, principalmente, o tatuador.

“Cheguei aqui com uma ideia, a expus para o Pimenta e começamos a pesquisar na Internet imagens, e fomos desenvolvendo juntos. Tatuagem é uma coisa que tem que ser pensada de acordo com sua personalidade, não por moda ou opinião de terceiros. Não é pegar um desenho qualquer e tatuar no corpo”, afirmou.

Thiago conta que as outras duas tatuagens remetem momentos positivos da trajetória dele. “Quando olho para elas, lembro-me de bons momentos da minha vida, então não vou me arrepender. Essa de agora também vai retratar um momento muito bom, então vai ser uma espécie de âncora mental e vai me trazer coisas boas”, ressalta.

As boas escolhas, de acordo com o empresário, também devem ser com relação ao local e ao profissional escolhidos para fazer a tatuagem.

“Às vezes, as pessoas, pensando em economizar, procuram qualquer profissional e esse barato sai caro. Tatuagem é para o resto da vida, é preciso ter muito cuidado nas escolhas que fazemos. O Pimenta não foi uma escolha aleatória, por acaso. Fui buscar referências, trabalhos que ele já realizou, isso é muito importante”, destacou Thiago.

Para a docente de enfermagem Andreia Nicoletti, 39, que têm cinco tatuagens, o procedimento vicia.

“Ninguém faz uma única ‘tatu’, isso vicia. Fiz a minha primeira aos 18 anos e já estou pensando na minha sexta tatuagem. Ainda não decidi o tema, mas já decidi que vou fazer mais uma”, disse.

BOM SENSO – O tatuador Reginaldo Pimenta, 45, do Studio Pimenta Tattoo, trabalha há 26 anos no ramo e já perdeu a conta das tatuagens que fez. Ele revela que a preocupação principal é com a estética.

“Já dispensei clientes que queriam contar a vida toda na tatuagem, uma verdadeira poluição visual. É preciso aliar conhecimento de criação e composição de imagem. É preciso ter ciência de que tatuagem é uma arte delicada, precisa, definitiva, que vai fazer parte da história de alguém”, disse.

De acordo com o tatuador, alguns clientes são negligentes na hora das explicações sobre cuidados pós-procedimentos, o que certamente pode acarretar problemas posteriores. “Ontem mesmo, eu dando explicação para uma moça e ela fazendo uma live. Eu falava, e ela não dava a atenção devida. Tive que, gentilmente, pedir para que desligasse o celular. Ela, provavelmente não gostou, mas fiz minha parte”, contou.

BODY PIERCER – Thalita Pimenta, 27, mulher do tatuador Pimenta, é uma body piercer, profissional especializada na colocação de piercings. Ela trabalha na área há oito anos e conta que é preciso ter muito cuidado ao manusear agulhas e fazer qualquer aplicação. As ferramentas usadas são esterilizadas e os piercings vendidos na loja são de material apropriado, como aço cirúrgico, o mais indicado para esses procedimentos.

“Todo nosso material é esterilizado, assim como os piercings, para evitar qualquer tipo de infecção. Importante também o profissional saber o que está fazendo, conhecer bem a anatomia, alguns locais são mais arriscados de furar do que em outros. Na região mais dura da orelha, por exemplo, que é rica em veias e artérias, exige uma técnica mais apurada do aplicador, porque uma infecção pode causar necrose [morte do tecido]”, disse.

Thalita informou que após a aplicação do piercing, o ideal é lavar a região com sabonete antibacteriano. “O mais indicado são os sabonetes íntimos, que mantém o pH da pele, deixando aveludada”, explica.

Procedimentos são inofensivos à saúde, desde que tomados os devidos cuidados

De acordo com a médica dermatologista Ana Paula Vitti, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), antes de passar por qualquer procedimento é imprescindível procurar um lugar regulamentado, limpo e com boa reputação, além de estar bem ciente da escolha feita.

“Primeiro, você tem que ter responsabilidade ao escolher seu ato estético, cosmético, cirúrgico, é uma decisão para a vida toda. Segundo, escolher o profissional que vai te atender, que ele seja habilitado, que tenha boas referências. Terceiro, observar as condições sanitárias do lugar, se existe registro na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], se o local é asseado. Você não vai passar por nenhum procedimento num fundo de quintal, ou num lugar escuro, sem higiene”, ressalta a dermatologista.

Ainda segundo a dermatologista, não existe ato cirúrgico que tenha zero por cento de risco. “Todos nós, quando escolhemos um ato cirúrgico, temos que ser responsáveis por ele, seja um procedimento estético para colocação de silicone nos seios, uma cirurgia plástica ou até mesmo um procedimento odontológico. Todos, sem exceção, estão expostos às consequências”, disse.

Para a médica, os alertas valem também para tatuagens e piercings. “É preciso saber se o tipo de tinta que vai ser usada é adequada, no caso da tatuagem, ou se o material do piercing é de aço cirúrgico”, aconselha.

Ana Paula ressalta que complicações decorrentes de tatuagens são raras e pouco conhecidas, assim como os problemas decor0rentes da colocação de piercings, mas garante que já atendeu pacientes de ambos os casos.

“Com relação à tatuagem, podem ocorrer infecções, reações alérgicas, queloides, processos granulomatosos que formam bolinhas vermelhas decorrentes de tintas condenadas. Entre os problemas causados por piercing, estão infecções por meio de bactérias ou microbactérias que se alojam em raízes nervosas, além de dor, sangramento, cistos, reações alérgicas e cicatrizes”, explica.

A médica alerta que um procedimento mal feito, sem o uso de materiais descartáveis, pode ocasionar doenças graves, como Aids e hepatites. Por isso, a importância de procurar um local apropriado, com bons profissionais e dentro das normas sanitárias.

De acordo com a dermatologista, para evitar complicações após o procedimento realizado, é preciso tomar alguns cuidados.

“Existe um processo de acomodação do corpo estranho na pele. É preciso manter o local higienizado e seguir as instruções do profissional tatuador ou body piercing, para evitar infecções, além é claro, do uso de protetor solar por um tempo bastante longo”, completa.