Amanhã, dia 25, a partir das 17h, a Casa do Neuber, localizada na rua Paulo Pereira, 206, bairro São Francisco, vai ser o local de um debate promovido pela Igreja Betesda Roraima. O evento intitulado “Diálogos”, vai tratar de questões como obscurantismo, intolerância, e o desafio da coexistência. Dentre os participantes do evento, estará o teólogo e escritor Ricardo Gondin. A entrada é franca.
Devido ao fluxo migratório, as manifestações de ódio contra estrangeiros tornaram-se cada vez mais comuns, além disso, tantas outras minorias continuam marginalizadas. São fatores que devem ser abordados, a fim de que a sociedade roraimense vislumbre uma outra perspectiva em relação a esses grupos.
A pastora Elizangela Ramos, afirma que o diálogo é socializador, à medida em que há troca de conhecimento e oportunidade de falar e de ouvir, sendo essa a proposta da Comunidade Cristã Betesda. “O evento ‘Diálogo’ é uma proposta da Igreja Betesda e mesmo sendo um grupo religioso, na verdade propõe o evento com caráter integrador, não apenas religioso. O caráter é promover o diálogo, entendendo que é a oportunidade em que a gente fala, mas também escuta. Especialmente na era das redes sociais, momento em que elas tornam essa troca mais rápida, também entendemos que as redes são limitadas, porque a gente se limita apenas a falar.
A pastora reforça ainda que a intenção é que o debate promova complementação entre os participantes, de modo que possam caminhar coletivamente na mesma direção.
“Devemos estabelecer esse diálogo para conhecer outros pensamentos, outras propostas, porque o que gera intolerância é a falta de conhecimento. Quando conhecemos o diferente, passamos a ter novas informações e isso ajuda a compreender melhor as coisas. Com o diálogo queremos minimizar esse desconhecimento. Queremos no diálogo fazer a troca e reafirmar o que pensamos, o que somos, entendendo que o diferente não nos ameaça, não nos diminui, pelo contrário, mostra que temos muito mais a aprender, a receber do outro. A escritora britânica Evelin Hall fala o seguinte: ‘Eu posso desaprovar o que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo’, então é esse o objetivo do nosso evento, falar e ouvir o outro e nessa direção se complementando e caminhando coletivamente”, salientou Ramos.
O escritor e teólogo, Ricardo Gondin, que participará do evento destacou que as expectativas são as melhores possíveis, tendo em vista que este tipo de discussão é pouco abrangente nos dias de hoje, tão marcados pelos discursos totalitários.
“Eu diria que nós vivemos um tempo tanto quanto frágil da humanidade, com o avanço de discursos que são, em sua essência, fascistas, que têm uma tangência muito próxima de todos os discursos totalitários que devastaram o século XX e o mundo convive hoje com esse diálogo. Eu acredito que abrir um diálogo com o pessoal de Roraima, que são pessoas de diferentes perspectivas ideológicas, religiosas, sobre esse debate é de maior importância para que não vivamos em uma cultura de ódio, de intolerância, de racismo”, ressaltou.
O teólogo acrescentou sobre a discussão em voz alta que a sociedade precisa ter a respeito das condições em que os marginalizados estão inseridos no contexto social e político.
“Acredito que Boa Vista, que Roraima, tem uma possibilidade única de discutir o assunto pela proximidade com a carência, com o desespero, com o sofrimento de gente de muito perto, vizinho, está passando fome, em desesperança, então eu acredito que abrir uma porta de diálogo para conversarmos em voz alta sobre o acolhimento, sobre a hospitalidade, será uma oportunidade muito rica para mim e espero que seja para a cidade de Boa Vista”, pontuou Gondin.
Conforme a presbítera da Igreja Betesda, Lane Prata, o diálogo vai despertar um olhar sobre o papel dos cristãos diante do momento em que a sociedade roraimense vive. Ela põe em foco que é possível agir em contrapartida ao que o poder público tem feito em prol das minorias. “Roraima vive uma situação de extrema emergência. Esperar que apenas o poder público faça algo é deixar milhares de pessoas à mercê de todo tipo de violência, insalubridade e vulnerabilidade. O papel dos cristãos é dar voz a quem não tem, é atender o pobre, o faminto e o nu. É se fazer presente onde ninguém quer estar”, disse.
Carolina Uchôa, diretora da Casa do Neuber, disse que receberam a proposta do encontro com bons olhos e sentiram-se privilegiados em ter o espaço escolhido para o debate. “Nós já fizemos outros debates. A Casa também é local de discussão, mas ficamos muito felizes em saber que uma instituição religiosa está presidindo e propondo o diálogo. Nós precisamos disso”, revelou. (J.B)