Cultura

Livros facilitam a leitura para pessoas com baixa visão

Nas próximas semanas a Biblioteca Pública terá um espaço apropriado, com livros com fonte ampliada e outros exemplares em Braille

LEANDRO FREITAS

Mais de seis milhões de brasileiros têm baixa visão ou visão subnormal. O dado do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela o crescente número de pessoas que sofrem limitações visuais e com isso, a dificuldade na leitura. Para contribuir para a inclusão desse público à leitura literária, a Biblioteca Pública, localizada no Palácio da Cultura, recebeu cinco exemplares de livros com fonte ampliada, que estão à disposição desde o início desta semana no acervo da instituição.

Os exemplares foram editados recentemente após o novo acordo ortográfico e foram doados pela Fundação Dorina Nowill para Cegos, que há 69 anos atua na inclusão de pessoas com deficiência visual na sociedade. “A leitura cura a alma e essa é a primeira semente plantada, de uma série de inovações que adotaremos para o público com baixa visão e cego”, disse a diretora do Departamento de Biblioteca Pública da Secult (Secretaria Estadual de Cultura), Tânia Magalhães.

Socióloga, bisneta de um dos pioneiros de Boa Vista, Inácio Magalhães e filha de Dorval Magalhães (escritor e autor do hino de Roraima), Tânia Magalhães se encanta com a possibilidade de levar a leitura a todos os públicos. “A educação, formação e informação são a base de tudo”, reforçou.

Tânia está à frente de uma biblioteca pela primeira vez. Mas a intimidade com os livros vem de bem antes. Quando criança, convivia diretamente com o pai escritor e percebeu que a educação transforma.

Segundo ela, nas próximas semanas a Biblioteca Pública terá um espaço apropriado, com livros com fonte ampliada e outros exemplares em Braille – sistema de leitura para cegos, com letras e demais códigos em alto relevo. “Tudo isso está dentro das nossas perspectivas de ampliar a oportunidade de crianças e adultos ao mundo da leitura. É o primeiro passo”, enfatizou Tânia.

Hoje, a Biblioteca Pública conta com acervo de pouco mais de 36 mil exemplares diversos e três biblioteconomistas. Dentre os livros para pessoas com baixa visão estão: “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway, “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, e “O grande desafio”, de Pedro Bandeira. A expectativa é aumentar esse acervo, de forma que estenda o conhecimento a mais pessoas. Esses exemplares estão à disposição para leitura no local, não podendo, por hora, ser emprestado.

Nance Talamás é auxiliar de biblioteca e há 45 anos convive com a baixa visão. Hoje, aos 60 anos sente dificuldade na leitura de perto. Segundo ela, ao longo desses anos, podem-se considerar alguns avanços para o público de baixa visão. “Esses livros que recebemos são excelentes e principalmente para pessoas que tem o problema e por alguma razão não tem condições de comprar óculos e fica impossibilitado de ler”, argumentou.

DADOS – Segundo o IBGE, na região Norte há concentração de 574.823 pessoas com baixa visão (3,6% da população da região). Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que se houvesse maior número de ações efetivas de prevenção e/ou tratamento, 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados.

Estima-se que 40 a 45 milhões de pessoas no mundo são cegas e 135 milhões sofrem limitações severas de visão. Um estudo da World Report on Disability, de 2010, aponta que a cada cinco segundos uma pessoa se torna cega no mundo.

Em Roraima, na rede estadual de ensino, 1.082 alunos estão enquadrados no perfil de educação especial, apresentando algum tipo de deficiência física ou visual.