As marcas de uma vida inteira, as experiências vividas e as histórias contadas por 12 mulheres pioneiras em Roraima estão retratadas na 3ª edição do Calendário Matriarcas de Roraima, que mostra o sorriso, a delicadeza e a força de cada uma delas.
O Calendário reúne mulheres de mais de 80 anos que fazem parte de famílias tradicionais e pioneiras do Estado e é uma iniciativa do Governo do Estado. Além da foto de cada uma das matriarcas, as páginas trazem o resumo da história de vida. Muitas se confundem até com a história de Roraima.
“O Calendário das Matriarcas é uma forma de contar a história de vida e superação delas. Eu entendo que é preciso revitalizar nossas raízes, nossas histórias em uma justa homenagem”, destacou a governadora Suely Campos.
Janeiro – Francisca Baltazar da Silva – Nasceu na cidade de Sena Madureira, no Acre, no dia 6 de janeiro de 1917, e afetuosamente foi apelidada de Dica. Casou ainda jovem com Pedro Carneiro, com quem teve dois filhos, ficando viúva três anos depois. Com pouco dinheiro recebeu o convite de sua irmã Jandira, para vir morar em Boa Vista. A viagem de Manaus/Boa Vista foi uma odisséia. Aqui chegando foi trabalhar no “Bar Jandirinha” localizado no Beiral. Não demorou muito e conheceu Francisco Rodrigues Lima, com quem casou e teve seis filhas. No dia 14 de Maio de 1952, começou a trabalhar como funcionária pública na escola Afrânio Peixoto, no Calungá. Hoje rodeada pelos 15 netos, 27 bisnetos e sete tataranetos, essa fantástica mulher chega aos 100 anos de idade com um belo sorriso no rosto de quem tem muita história para contar.
Fevereiro – Clarisse Ribeiro Monteiro – Moreninha do lavrado, como sempre foi chamada, nasceu em 1º de fevereiro em 1933, na fazenda São Francisco, região do Ereu. Teve a infância muito feliz, nessa linda e farta fazenda. Veio para Boa Vista aos 15 anos e logo casou-se com Eugênio Bríglia Monteiro, conhecido como ‘Bentivi’, com ele teve três filhos, que lhes deram 9 netos e 12 bisnetos. Trabalhou por muitos anos no protocolo no Palácio do Governo. Hoje aposentada, o lazer é se divertir com os amigos e familiares, em um pequeno sítio. Cuida muito bem de seu jardim, e ainda toma uma cervejinha. Como ela diz: “Ninguém é de ferro”.
Março – Jacira Lira Melo – Paraibana, nasceu no dia 24 de março de 1936, hoje com 81 anos. Filha de Vicente Correia Lira e Eliza Pedrosa Lira. Chegaram a Roraima em 1940 e foram direto para o Murupu, onde já estavam muitos familiares. Passaram uma temporada e migraram para o Taiano, onde foram pioneiros no cultivo do Tabaco. Casou aos 18 anos com Valdemir Pereira de Melo, conhecido como Lú, com quem teve oito filhos. Atualmente, dedica-se a fazer artesanato em pintura e bordados à máquina. Católica fervorosa, não falta às missas dominicais, onde frequenta a Igreja São Francisco. Adora receber os 21 netos e 7 bisnetos. Acolhedora, recebe os amigos com carinho e guloseimas deliciosas.
Abril – Ivaneide da Silva Brandão – Nascida no dia 06 de abril de 1934, na fazenda Boa Esperança, região do Alto Uraricoera, Ivaneide veio para Boa Vista, aos 10 anos de idade para estudar. Prestou concurso aos 17 anos para auxiliar de ensino. Passou e retornou para a fazenda, onde ficou por dois anos lecionando para as crianças, filhos dos vaqueiros. Aos 19 anos casou com Antônio Duarte Brandão, maranhense e homem muito trabalhador. Teve seis filhas mulheres e um homem. Viúva desde 2005, vive hoje com duas filhas, Sandira e Maria de Jesus. Adora festas, passeios, viagens e faz parte do grupo da terceira idade “Estrela Brilhante”, com quem se diverte muito. Aos 84 anos, continua com o vigor dos 40 anos.
Maio – Maria Bernadeth Vasconcelos Barreto – Nascida em 5 de maio de 1931, na casa construída pelo próprio pai, onde hoje é a escola Boas Novas. A Infância se deu entre Boa Vista e a fazenda Monte Alegre, na região do Cauamé. Estudou na escola São José e depois no ginásio Euclides da Cunha. Casou-se aos 31 anos com o baiano Derotino Barreto, conhecido como “Deró”, e foram morar na Venezuela, onde passaram 10 anos, pois ele era Diamantário (comprador de diamante). Tiveram dois filhos: Nazareno e Vicente. Seus partos foram muitos difíceis e optou por não ter mais filhos. Trabalhou como funcionária pública por pouco tempo, na gestão do governador Hélio Araújo, pois a verba de contratação acabou. Ficou viúva em 1981. Na casa onde mora, recebe parentes, amigos e seus seis netos, todos adolescentes. Muito católica, não perde uma missa dominical. De memória irretocável, relembra Boa Vista antiga, nos mínimos detalhes.
Junho – Terezinha Quezada Araújo – Chegou neste mundo material em 28 de junho de 1928. Nasceu em Serrita, município de Pernambuco, lugar muito pacato, pequeno, onde todos se conheciam. A vida era muito difícil, a seca castigava não só o seu torrão pátrio, mas todo o Nordeste. O irmão primogênito, Vicente Ferreira de Araújo, soube dos garimpos de diamantes e ouro de Roraima e não teve dúvidas, decidiu dar uma chegadinha aqui. Com o bolso cheio regressou à terra Natal e trouxe a família, entre a irmandade, veio Terezinha, isso em 1951. Jovem, bonita, solteira, com apenas 23 anos, logo conheceu seu grande amor, o também jovem, que era conhecido como Joaquim Granfino, de tão elegante que era. Casou em 1953, no próprio garimpo, onde teve 11 filhos: oito mulheres e três homens. Em 1964, veio morar em Boa Vista. De semblante jovial, sorridente, essa grande mulher, acolhe os familiares todas as tardes, em sua residência, com aquele cafezinho fresco e um lanche gostoso. É paparicada por todos os filhos, e pelos 19 netos e 19 bisnetos.
Julho – Neuza Guimarães da Silva – “Não tenho saudades de uma infância infeliz”… com esta frase, pode-se deduzir a vida de sofrimento dessa grande mulher. Uma vida de tristezas, mas também de grandes superações. Filha de Benedito Guimarães e Albertina Cruz Guimarães, nasceu no dia 14 de agosto de 1937, em uma fazenda na região do Amajari. Com apenas três anos de idade, perdeu sua mãe. Os anos foram passando e ela aprendeu o ofício da garimpagem muito cedo, desde que chegara ao Tepequém, aos oito anos. Aos 18 anos, apareceu lá pelo Tepequém um jovem, Antenor Pereira da Silva, e seu pai a obrigou casar com ele, e mesmo sem amor topou esse desafio. Teve uma única filha com 33 anos de idade, quem lhe deu uma neta, de cinco anos de idade. Com uma força interior gigantesca, com uma superação inacreditável, hoje mora sozinha em um sítio lindo, cheio de plantas, no meio da mata, de nome “Diamante Azul”.
Agosto – Maria Mirna Souto Maior Sarah – Neta do lendário professor Diomedes Souto Maior, de família tradicional e respeitadíssima. No dia 10 de agosto de 1939, Mirna chegou carregada no “bico de uma cegonha” e foi entregue á parteira vovó Cló, na casa onde hoje é o bar Meu cantinho. Sua infância foi feliz, e muito inteligente, se auto alfabetizou, formando palavrinhas, com biscoitos de letrinhas. Desde criança quis ser professora, persistiu nesse intento e teve sua formação como Mestra, embora, até hoje, orgulha-se muito mais do diploma de professora primária. Casou com Olivaldo de Melo Sarah, com quem teve seis filhos, sendo um já falecido, o artista cantor, poeta, compositor Sérgio Souto Maior Sarah, ganhador do 1º Festival de Música de Roraima. Em 1966, foi designada para a Secretaria de Educação, onde exerceu várias funções. Antes de se aposentar, foi também professora de cursos de férias para professores não titulados e diretores de escola. Hoje, curte os 11 netos e não reclama de nada, pois diz sorrindo que tem a melhor bengala do mundo, seu marido.
Setembro – Maria de Nazareth Pará Marques de Lima – Manauara, nasceu no dia 19 de setembro de 1927. Filha de João Evangelista Marques e Mariana Pará Marques. Chegaram aqui em 1944, no auge em que o Rio Branco, município do Amazonas, estava se emancipando como Território Federal. Com apenas quatro meses, em Boa Vista, aos 20 anos, com uma paixão fulminante, casou-se com o jovem Sebastião Bessa de Lima. Aqui, foi professora, primeiramente no Grupo Escolar Lobo D’Almada, depois no colégio São José e Oswaldo Cruz. Era uma época muito difícil, não havia nada, sequer mimeógrafo. Hoje, sente-se abençoada, com os cinco filhos, doze netos e seis bisnetos. Como passa tempo, para ter a memória ativa, faz palavras cruzadas.
Outubro – Manoelina de Jesus Lima da Silva – Desde muito criança, foi chamada de Santa, o que faz jus. Pois, de temperamento muito tranquilo, resolve todos os problemas sem se alterar. Bondosa, caridosa, prestativa, tem esses sentimentos como lema de vida. Nasceu no dia 16 de Outubro de 1931, em Bom Gosto, município do Amazonas. É filha de Eurico Ferreira Lima e Elvina Magalhães Lima, de um dos Clãs mais tradicionais e a primeira família a se radicar aqui em Roraima. Chegando aqui, foi com seus pais residir na fazenda Livramento, até os 16 anos, quando então veio para Boa vista, para estudar. Fez até o quinto ano. Foi então trabalhar como regente de ensino, ou seja, professora alfabetizadora. Ainda solteira, fazia suas refeições na pensão da tia Olindina, Irmã de sua mãe, onde conheceu o amor da sua vida, o médico Dr. Francisco Elesbão da Silva, com quem teve nove filhos. É muito animada, alegre, adora um bom papo e recebe em sua residência, para saborearem a farta comilança preparada por ela mesma. Adora dançar e cuidar do seu lar. Hoje, Santa se diverte muito com os seus filhos, noras e seus adoráveis 13 netos.
Novembro – Inez de Oliveira Pereira Nathrodt – Nasceu em 5 de setembro de 1922. É paraense de Alencar, no sangue do paraense, é atávico o Carimbó. Com essa bagagem cultural enorme, chegou aqui em 1942, num avião da FAB, com apenas 20 anos, em companhia de irmão Sebastião, que era alfaiate. Quatro anos depois, em 1946, casou na Matriz Nª. Sª. do Carmo com Carlos Nathrodt, uns dos pioneiros, com quem teve três filhos homens e cinco mulheres, que lhes deram 22 netos e 19 bisnetos. Trabalhou na Legião Brasileira de Assistência como professora de artes em bordado a máquina. Sempre foi muito católica e fez parte do Sagrado Coração de Jesus, participava com alegria nas organizações das festas católicas. Hoje, como terapia, essa grande mulher, exemplo de vida, aos 95 anos continua bordando. Amada, respeitada, admirada, essa grande mulher é mais um exemplo de vida a ser seguido.
Dezembro – Grivalda Barroso de Vasconcelos – Em Serra Madureira, no Acre, nasceu no dia 31 de dezembro, filha do casal Francisco Barroso e Maria Pereira Barroso. Morou no Ceará até os 17 anos, quando uma tia que já morava aqui, mandou buscá-la. Aqui chegando foi morar na pensão de dona Olindina Magalhães, que só hospedava moças de família. Jovem, linda, de porte muito elegante, logo fez amizade com as moças riobranquenses da época e arrebentou os corações dos rapazes. Fez concurso para auxiliar administrativo, passou e foi trabalhar no Palácio do Governo, onde, pela sua competência e dedicação, adquiriu várias promoções. Em 1959, casou-se com Sebastião Souza Vasconcellos, com quem teve seis filhos, que lhes deram 13 netos e quatro bisnetos. Atualmente dedica-se à leitura de romances, sendo sua autora preferida Zibia Gaspareto, com romances espirituais. Conserva a beleza de autora e esbanja beleza interior. Acolhedora, bonita, simpática, recebe a todos com muito carinho.