Desde 2010, foram notificados quase 228 mil novos casos; só entre 2014 e 2015 houve um aumento de 32% nos casos de sífilis entre adultos – e mais de 20% em mulheres grávidas. A maior parte dos casos está na região Sudeste (56%), a mais urbanizada e desenvolvida do País. Em 2015, houve 6,5 casos de bebês infectados a cada mil nascidos vivos; o valor é 13 vezes maior do que a Organização Mundial da Saúde considera aceitável.
A Sífilis é o nome dado à infecção decorrente da bactéria Treponema pallidum. Ela invade o corpo em quatro fases. Cada etapa determina o quão dominado ele está pelos micro-organismos. A primeira, dura no mínimo quatro e no máximo oito semanas e se manifesta como uma ferida indolor que desaparece sozinha, sem deixar rastros.
O fato de o machucado não doer é estratégia de sobrevivência das bactérias. Se não dói, é possível disseminá-las. A segunda fase é ainda mais favorável para os micróbios. A doença volta a dar as caras entre seis semanas e seis meses após os machucados genitais sumirem. O infectado pode apresentar feridas pelo corpo, manchas vermelhas e, sobretudo, lesões na palma das mãos ou dos pés – sintomas que podem ser facilmente confundidos com uma alergia cutânea.
As reações afinal são tentativas do corpo de sinalizar a doença, e uma medicação equivocada para abafar os sintomas mascara o pedido de socorro. Uma vez que os sinais se vão mais uma vez – mesmo sem medicação isso acontece -, passe livre para voltar a transar e multiplicar a espécie – da bactéria. E começa a terceira fase da doença: a sífilis latente. O nome não é à toa. Nesse período (que pode durar até 40 anos), a sífilis fica reclusa.
Na verdade, ela perde até seu caráter infeccioso; ou seja, o portador não passa mais a bactéria para frente, até explodir a sífilis terciária, fase aguda da moléstia. As úlceras que começam a brotar pelo corpo são tão agressivas que, em regiões de contato direto da pele com ossos, como no crânio, o esqueleto começa a ser corroído.
Na tíbia, principal osso da canela, o corpo até tenta combater a degeneração: conforme a erosão óssea aparece, o estrago vai sendo calcificado. A região afetada começa a engrossar e, com o avanço do desgaste, a canela vai ficando curvada. Em alguns casos, a bacia também é afetada e o doente perde a capacidade de andar em linha reta. Uma das maneiras mais antigas de identificar portadores de sífilis, inclusive, é ver se a pessoa caminha como um pato, rebolando por causa da bacia deteriorada. Implacável, a infecção ainda ataca os sistemas vascular e nervoso – o que pode acontecer precocemente entre a primeira e a segunda fase.
Quando a bactéria finalmente ocupa o cérebro, o infectado começa a sentir alterações de humor e pode desenvolver demência. É a chamada neurosífilis. Nesta última fase, a sífilis deixa de ser infecciosa e quer acabar somente com o portador.
Do nível 1 até a morte
A sífilis funciona em fases. Os diferentes sintomas (ou a falta deles) ajudam a determinar a gravidade da infecção
1. Primária – Duração: 4 a 8 semanas
Na início, o único sintoma é uma ferida, indolor, na área infectada (pênis, vagina, ânus ou garganta). O machucado some no fim dessa fase.
2. Secundária – De 2 a 6 meses
Os principais sinais são machucados pelo corpo. Eles aparecem espalhados, mas se concentram na palma das mãos e nos pés.
3. Latente – De 2 a 40 anos
As feridas e os sintomas desaparecem. A partir desse estágio, ela não é mais contagiosa.
4. Terciária – Até a morte
A sífilis reaparece potente: deforma as pernas e ataca o rosto e o cérebro.
Fonte: Felipe Germano – Super Interessante