“Meu amigo companheiro, meu irmão camarada, eu conto as minhas histórias e você conta as suas paradas” esse é o trecho da poesia ‘Poeta do Interior’ que leva o título do primeiro livro do escritor Antônio Nogueira. O lançamento da obra ocorre nessa quinta-feira (22) na comunidade indígena Santa Luzia, na comunidade três corações no município de Amajari.
Antonio Nogueira é professor de matemática e ensina na escola Estadual Indígena Santa Luzia há seis anos. Escolheu reproduzir seus poemas em literatura de cordel, gênero que se apaixonou aos quinze anos, quando teve seu primeiro contato com o estilo.
“Foi lendo o Patativa do Assaré conhecido como o maior poeta popular brasileiro que comecei a admirar o gênero literário, assim como ele é porta voz do sertão, busquei ser o da minha comunidade, escrevendo sobre as pessoas da minha família e que fazem parte da minha vida” contou.
O autor escolheu reproduzir seus poemas em literatura de cordel (Foto: Arquivo pessoal)
Na obra, histórias de sua vida, vivências, pensamentos e a dura rotina do professor que ensina nas comunidades indígenas. A característica principal de seu trabalho é a oralidade: o poeta transfere a palavra para o papel tal qual ela é falada pelo homem simples.
O autor produziu 50 exemplares que serão vendidos na comunidade, ou por meio de encomenda 991774103.
O autor produziu 50 exemplares que serão vendidos na comunidade (Foto: Arquivo pessoal)
O poeta do Interior
Por Antonio Nogueira
Meu amigo companheiro
Meu irmão camarada
Eu conto as minhas histórias
e você conta as suas paradas
Conto a minha vivência
E você sua experiência
Que conosco está guardada
…
Eu moro aqui no interior
E você lá na cidade
Os seus costumes são outros
Diferentes da comunidade
Você tem uma vida faceiro
Enquanto eu no desespero
Não tenho tempo pra vaidade
…
Você fala das coisas da cidade
Coisas que aprendeu na rua
Eu falo das coisas da natureza
Dos matos, dos rios, do sol e da lua
Falo das lutas e glórias do meu povo
Falo do velho e do novo
A minha história difere da tua
…
Você é poeta de fama
Teve uma boa educação
Fala palavras bonitas
De difícil interpretação
É considerado um artista
É sempre no topo da lista
Chama muito a atenção
….
Fala de muitos contos e lendas
Fábulas e muitas teorias
E tem muitas imaginações
Que enche o povo de alegria
Fala de amor e sentimento
Faz o povo por um momento
Esquecer sua mazela de cada dia
…
Já eu sou um poeta das brenhas
E não chego a ser cantor
Conto a tristeza do meu povo
Conto a sua luta e a sua dor
Conto coisas da comunidade
Falo da dura realidade
Falo da vida do interior
…
Mas te digo com toda certeza
Você pode até ser doutor
Mas na harmonia com a natureza
Aqui eu sou professor
E por tudo isso não te invejo
E com essa rima que aleijo
Também mostro o meu valor