Cultura

Retratos de uma história de resignação e resistência

É possível notar uma série de elementos que contam a história do povo de Roraima

Existem belíssimos monumentos espalhados pelo Brasil, que as pessoas muitas vezes não têm a menor ideia do seu significado. Eles se propagam em fotos em redes sociais, mas a sua história muitas vezes é um mistério. Em Boa Vista, há um monumento com 26 anos de existência, com 5 metros de altura e 15 metros de largura, que homenageia os pioneiros, ou seja, aqueles que chegaram ao local antes de nós e formaram a cultura da região. 

Esculpido em concreto armado e construído pelo artista plástico Luíz Canará, o monumento localizado às margens do Rio Branco traz em forma de Monte Roraima, marco das fronteiras entre Brasil, Guiana e Venezuela, elementos que faziam parte da realidade das primeiras famílias que chegaram ao local na época, o marco zero da colonização na região. Quem parar por alguns minutos e reparar no monumento vai ver uma série de elementos que contam esta história.

Um zoom no monumento

Logo no primeiro plano, é possível observar um casal na canoa, que era o principal meio de transporte da época. Atrás do casal, estão grupos de retirantes a pé, com suas famílias, crianças no colo, caixas, livros e malas na mão. Um homem a cavalo parece marchar em direção aos indígenas, e representa os fazendeiros e criadores de gado da região. A pecuária sempre foi muito forte no local, e é até hoje a fonte de renda de boa parte da população de Roraima.

Todos os personagens parecem estar se locomovendo para o lado do monumento onde estão os povos originais. Neste espaço, é possível ver o busto de Macunaíma, o grande mito indígena roraimense, com outros indígenas em segundo plano, em uma referência aos povos nativos e homenagem a um forte personagem da mitologia indígena roraimense. A época de criação do monumento, na década de 1990, foi marcada pela tensão entre povos indígenas e não-indígenas, quando garimpeiros invadiam as terras dos nativos. Embora a obra seja muito harmônica, o que ela representa é muito conflito de interesses e sofrimento ocorrido na formação do que conhecemos hoje como nação.

A rica flora e fauna locais não ficam de fora da homenagem. Elas estão no quadrante do monumento para onde os pioneiros estão se locomovendo, e é possível notar animais e plantas típicas da região, como a floresta de buritizais, considerada atualmente patrimônio natural de Roraima. 

A obra está localizada no berço histórico de Boa Vista, e é atração turística garantida para quem passa pelo local. A visitação ao Monumento aos Pioneiros é gratuita; para conhecer essa importante parte da história, basta programar a viagem, pesquisar valores de passagem de ônibus e preparar o smartphone para as fotos.