Os livros ‘Eu canto a noite’ e ‘Panton Pia – A história do Makunaima’, serão lançados neste sábado (18), durante sarau literário que ocorre no Bar do Rock. O evento contará com shows musicais e declamações de poesias a partir das 20 horas. A entrada é franca. Na ocasião também ocorre o lançamento da Editora Wei.
As obras reúnem poesias e contos dos autores póstumos Alex Silva e Clemente Flores. O primeiro livro reúne poesias do estudante do curso de Letras Alex, que cometeu suicídio em 2009. “Tive a oportunidade de conhecer o Alex quando ele era meu aluno, tinha esse material belíssimo e um conteúdo muito impactante que desnorteia o leitor, então procurei pela família que permitiu que publicasse o material em livro”, contou o escritor Devair Fiorotti, que organizou a obra.
O segundo livro é baseado em uma conversa entre Devair Fiorotti e o autor Clemente Flores que faleceu em 2008, por problemas de saúde. O livro foi traduzido para o taurepang pelo seu filho Mauro Flores, que é também responsável pela ilustração do livro.
“É uma obra bilíngue com uma ilustração que reforça o encantamento dos leitores devido à beleza da arte indígena. Quando da entrevista, em 2008, Clemente Flores mencionou seu filho desenhista, disse que a história que ele iria contar, um filho seu teria desenhado. Surpresa minha foi ter, anos depois, conhecido Mário Flores e ter acesso a seus desenhos e mesmo pintura” relembrou.
O livro narra a história dos irmão Macunaima, em uma versão vinda da oralidade e narrada por Clemente Flores. “A entrevista ocorreu na Comunidade Sorocaima I, Terra Indígena São Marcos, Roraima, dentro das atividades do meu Projeto Panton pia’ (ver pantonpia.com.br), que registra e analisa as artes verbais ameríndias do circum-Roraima. Aos pés da Serra de Pacaraima, sua voz se lançou em direção aos ouvidos, ao gravador e à mata ali presentes. A ideia é que possamos ter acesso, dentro do possível, à sua forma de narrar e à sua linguagem”, disse.
Eu canto a noite
Eu canto a noite
Apenas podemos cantar o que somos
O imaginário é uma extensão do ser
Eu canto a noite
Em versos sem métrica
Versos despretensiosos
Sem lirismos, noturnos
Sedosas são as penas do corvo
Espelhos d’água em noite de cheia lua
Seus olhos
Eu canto a noite
Em primeira pessoa, onisciente
Apenas a primeira pessoa importa
A noite é quando preenchido o vazio do dia
A noite é um rito
Eu canto a noite
Cheio de loucura e febre
Ofegando enquanto salto sobre crateras
O vidro das estrelas estilhaçado no beco
Edifícios em trevas vestidos
Meu suor, meu sêmen, meu sangue
De tudo se desprende o canto
Eu canto a noite
Alex Silva
As obras podem ser adquiridas no site da editora https://weieditora.com.br/