Texto: Cyneida Correia
As dificuldades de comunicação enfrentadas pelo jovem Yuri Stanlyn Alves de Lima, 30 anos, quando criança, serviram para impulsionar um sonho. Surdo desde que nasceu, ele não teve a oportunidade de aprender a própria linguagem quando cursou a educação infantil, a Língua Brasileira de Sinais, conhecida mundialmente como Libras.
O fato tornou a infância de Yuri mais difícil. Ele não compreendia o que as pessoas queriam dizer e elas, por sua vez, não o entendiam. Com exceção da mãe, que lhe pedia paciência, Yuri não tinha com quem conversar. “Foi difícil porque não sabia me comunicar, e procurava desenvolver algo diferente”, diz ele. Quando concluiu o ensino médio, em escola pública, e viu em um outdoor na rua o anúncio de vestibular para Pedagogia na Estácio, ele visualizou a possibilidade de realizar seu sonho: ser professor e ensinar Libras às crianças surdas sem condições.
Yuri trabalha como estoquista em um supermercado, morador do bairro Jardim Equatorial, é solteiro e não tem filhos. Conheceu a língua brasileira de sinais no Centro de Atendimento a Pessoas com Surdez, setor ligado ao Estado. Antes disso, estudou um período na antiga escola especial do Governo, quando assistia às aulas de áudio comunicação.
Na Estácio, Yuri teve apoio de um intérprete durante os quatro anos em que cursou Pedagogia. Na semana passada, ele apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre a inclusão do surdo no ensino superior. “Quando percebi que as pessoas surdas não aprendiam a própria língua, pensei que poderia contribuir para melhorar isso. Mas precisava ter o curso superior”, comentou.
No decorrer do curso, em meados de 2011, Yuri teve um acidente, chegou a enfrentar dificuldades com a troca de intérpretes, e pensou em desistir. “Senti uma força de vontade muito grande de querer terminar, e agora vou realizar meu sonho”, disse ele, que agora vai se preparar para concursos públicos na área de Educação.
O Centro Universitário Estácio da Amazônia tem outros alunos surdos, dois deles apenas no curso de Pedagogia, em processo de formação. Yuri destacou esse apoio, necessário para alcançar seu sonho. “As pessoas se preocupavam em me ensinar a fazer os trabalhos, como apresentar os trabalhos, como fazer as provas, e os professores contribuíram com esse processo de formação entendendo minhas necessidades, inclusive com relação ao intérprete”, salientou.
A reitora do Centro, Brena Linhares, comentou que a instituição é cobrada pela Estácio nacionalmente, por meio do seu Programa de Excelência em Gestão, a oferecer toda a acessibilidade necessária, não apenas a surdos, mas a pessoas que tenham qualquer tipo de necessidade especial. “É uma cobrança da Estácio e do próprio Ministério da Educação. Uma exigência legal, que temos procurado cumprir demonstrando essa preocupação da inclusão social. Temos essa preocupação de oferecer os intérpretes, piso tátil, rampas, programas na biblioteca, e todo sistema apropriado para atender qualquer necessidade”, ressaltou.
Yuri, que cola grau no início do próximo ano, aposta que sua história pode inspirar outras, que precisam apenas de um exemplo para poder superar obstáculos: “quero que as pessoas acreditem em sua capacidade. Não desistam dos seus sonhos, por que eles podem contribuir com o desenvolvimento de outras pessoas”.