Cultura

Videolocadoras ainda sobrevivem em Roraima

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades

Um hábito que era bastante comum entre as pessoas há alguns anos era o de se dirigir às videolocadoras e alugar aquele filme que gostaria de assistir com a família e com os amigos. Porém, esse hábito se perdeu com o tempo e com o avanço da tecnologia, da internet e do advento de serviços de serviços de streaming, como a Netflix e a Amazon Prime Video.

Fernanda França, proprietária de uma locadora que ainda funciona entre 18h e 21h no centro da capital, relembrou que a empresa está no ramo há 26 anos, desde a época do VHS, e tem acompanhado a evolução da tecnologia, com a introdução do DVD e do Blu-Ray, até a chegada da internet.

“Tudo passou a estar mais próximo do usuário e está na mão dele: câmera, filmadora, gravador; isso tudo está em um celular. O que facilitou para o consumidor. A gente sabia que isso iria acontecer, tanto é que diminuímos gradativamente de quatro lojas para apenas uma. Teve época em que tínhamos 22 funcionários em todas as lojas e hoje temos apenas um. A demanda diminuiu”, explicou Fernanda.

Antiga proprietária de uma locadora que acabou fechando, Cristina Bürger Robledo foi um pouco além. “Esses serviços de streaming impactaram de tal maneira que as locadoras tiveram que se retirar do mercado, porque essas mídias novas já tinham começado a crescer e desestruturaram as locadoras. Hoje em dia, você pode alugar esses filmes nesses serviços ou até assinar. É difícil ver uma locadora em pé, atualmente”, afirmou.

Em geral, o aluguel de uma mensalidade da Netflix equivale ao aluguel de cinco títulos disponíveis em qualquer locadora alguns anos atrás, situação essa que favoreceu o consumidor, mas gerou problemas para os empresários. Fora esse fator, ainda existe a venda pirata de filmes, séries e álbuns, seja por meio físico ou pela internet.

CHOQUE DE GERAÇÕES – O fim da maioria das locadoras se deu por conta da mudança da forma como o consumidor busca aquilo que deseja por meio da internet. Além disso, tem a questão da economia e da segurança. Cristina avalia essa mudança.

“As empresas de cinema têm esse impacto, mas ela anda mais rápido. O que acontece é que os filmes estão sendo feitos mais rápido e as séries aumentaram. Por que isso? O consumidor quer tudo completo e de imediato. No comércio de locadoras, não haveria mais espaço para aqueles estabelecimentos de antigamente”, disse.

Fernanda acredita que essa mudança é normal, mas ressaltou que ainda existem lugares onde pode existir público para esse tipo de estabelecimento.

“Por exemplo, lá no sul do Estado, se alguém quiser montar uma locadora ali, vai ter gente procurando, por conta da internet. Essa pessoa acaba atendendo um público que sente necessidade desse tipo de diversão”, concluiu.

Entrevistados falam de sua relação com as locadoras

E os consumidores? Como eles consumiam os serviços desse tipo de estabelecimento? Como é o consumo de filmes e séries hoje em dia? Qual a visão que eles têm sobre esses lugares? Com essas perguntas na cabeça, a nossa equipe entrou em contato com algumas pessoas que frequentavam bastante essas videolocadoras.

ALUGAR O FILME – Apaixonado por cinema, o cineasta roraimense Alex Pizano tem uma relação especial com esse lugar, já que trabalhou em uma locadora durante os anos 90.

“Foi uma época boa, de descobrimentos de novos filmes que nem o cinema comercial nem a TV aberta proporcionavam; e nessa fase que trabalhei em uma videolocadora, para mim era como uma escola de cinema ao alcance da minha mão”, assumiu carinhosamente.

Quem também passou pelo processo de trabalhar em uma locadora que chegou ao fim em 2012 foi o estudante Pedro Silveira, de 22 anos. Para ele, a experiência juntou o atendimento ao público à paixão pelo cinema. “Mas dava para ver que a Netflix estava começando a chegar a Roraima e as pessoas estavam cada vez menos interessadas em alugar filmes”, ponderou.

O também estudante de 22 anos, Francisco Eduardo Cordeiro, conta que a família costumava ir todo fim de semana à videolocadora, quando todos estavam em casa. “As férias de família sempre se resumiam em alugar filme pra ver em casa. Eu particularmente ficava sempre animado pra ver coisas novas. Era uma criança muito apegada à televisão”, relembrou.

#PARTIUINTERNET – Para Alex, o que de fato mudou foi somente a não-locomoção a esses estabelecimentos. “Continuo assim, como antes, indo às salas de cinema e assistindo filme na TV aberta ou fechada. E agora, com o advento das plataformas de streamings e torrents, o acesso a filmes é ainda maior que antes. Basicamente foi uma evolução natural das coisas”, ressaltou.

Já Pedro tem preferência pelo Torrent, já que muito filme nem sequer chega aos cinemas comerciais de Roraima. “Sem falar que não dá para bancar ingresso o tempo todo”, completou.

Grande parte do consumo feito por Francisco Eduardo é pelo streaming, porém, quando pode, sempre compra versões físicas de álbuns de música, filmes e séries. “O fato de tornar tudo mais fácil e instantâneo faz com que eu acabe usando mais essas ferramentas, porém ainda sou um grande admirador de consumo tradicional”, declarou.

NOSTALGIA PURA – Alex acredita que a principal diferença entre a locadora e a internet é a convivência social entre os consumidores. “Havia conversas com os clientes em comum, indicações, as pessoas não julgavam tanto o gosto das outras, como acontece muito, hoje, nas redes sociais”, ressaltou.

Pedro acredita que o saudosismo ainda manterá vivas as videolocadoras, pelo menos por um bom tempo. “Acredito que locadoras não morrerão completamente. Algumas ainda existirão, só que para um público mais alternativo, como já acontece em cidades grandes”, acrescentou.

Por fim, Francisco Eduardo exaltou a nostalgia e a sensação de se entrar em uma videolocadora. “Demorava bastante pra olhar todos os lançamentos e filmes que ainda não tinha visto, pra decidir o melhor. É um bom momento de encontro com a arte visual”, finalizou.