O romance regionalista indianista Meia Pata, do biólogo e escritor potiguar radicado em Roraima, Ricardo Dantas, pode marcar o início do surgimento de um novo gênero literário, o Bioarte.
De acordo com o autor, a obra é fruto do Movimento Literário Bioarte, criado para incentivar a reflexão diante da importância da conservação do meio ambiente.
“Comecei a escrever Meia Pata em 2008. Havia acabado de concluir Ciências Biológicas, e meu objetivo maior, então, era publicar um romance que envolvesse a temática ecológica. Ao longo dos cinco anos que passei trabalhando com o livro, acabei envolvendo-me com comunidades tradicionais, como seringueiros no Acre, e ribeirinhos e indígenas em Roraima. Unindo essa proposta de exaltar os ecossistemas e as comunidades tradicionais, surgiu o gênero literário Bioarte”, explicou Ricardo Dantas.
A partir da indicação de Meia Pata como obra de referência do vestibular da UFRR, Ricardo Dantas passou o ano de 2016 ministrando palestras em escolas públicas e privadas, em cursinhos preparatórios, e em eventos acadêmicos.
“Sempre deixei claro para o público que assistia às minhas palestras, de que Meia Pata é um romance escrito por quem possui, além de formação acadêmica, conhecimento de vivência no contexto em que se desenrola a narrativa do livro, o que fortalecia a proposta do Bioarte”.
Foi no Caderno de Provas do vestibular, que o gênero literário proposto por Ricardo Dantas tornou-se oficial: “Quando eu li a primeira questão do vestibular, e lá estava, na íntegra, o texto manifesto de Bioarte, nem acreditei. Poxa, o manifesto estava ali, para que mais de nove mil pessoas lessem e tomassem ciência. A UFRR havia me dado um presente que nem poderia imaginar!”, comemorou.
A opinião de especialistas
É fato que não é todo dia que um movimento literário surge. Com o primeiro passo dado pela UFRR no reconhecimento dessa manifestação artística, Bioarte passa a se configurar como um gênero genuíno criado em Roraima, com uma obra ambientada nos ecossistemas roraimenses, exaltando seus povos tradicionais e costumes regionais.
A Professora Ana Maria Alves de Souza, Mestre em Letras/Literatura, Artes e Cultura Regional, afirma que ao ler o livro ‘Meia Pata’ procurou entender por que o autor quis inseri-lo em um novo gênero.
“Isso demonstra a possibilidade de concretização da proposta do autor: a Bioarte dentro da literatura. Dessa maneira, vejo que os aspectos trabalhados em ‘Meia Pata’ mostram o quanto o autor foi habilidoso em trazer um rico material de ensinamento biológico, químico, matemático, geográfico, sociológico, entre outras áreas. Assim, o movimento Bioarte existe, pois é possível perceber o fazer artístico aliado ao conhecimento das ciências e às particularidades locais”, relata.
O movimento literário iniciado no extremo Norte alcançou o Estado de origem do autor, Rio Grande do Norte, e recebeu críticas de P. C. Palhares, professor, geógrafo, ilustrador e autor do romance “Lumínios – A vitória dos exilados”.
“Evidenciar o Nordeste, o sertão, o sertanejo, mostrar ao Brasil que somos formados de pluralidades, de povos tradicionais, membros de matrizes africanas, ribeirinhos, artesãos e toda uma miscelânea cultural. Pois bem, o Bioarte vem fazendo isso. Fui muito feliz ao ler e estudar Meia Pata, nele vi interações que abordavam o social, econômico e ambiental e de uma forma crítica e escancarada da realidade na qual existimos”.