A quantidade de alunos indígenas no Instituto Federal de Roraima (IFRR) tem aumentado ao longo dos anos e em alguns dos Campus, como o do Amajarí, eles já são maioria entre os estudantes. Nos cursos presenciais e à distância, foram 4.477 alunos matriculados em 2017, e desse total, 11,83% se autodeclararam indígenas.
A unidade com maior número de indígenas é o Campus Amajari, com 53,33% de 720 alunos, seguido por Bonfim, com 5,74% de 174 alunos. Dos 2.645 alunos do Campus Boa Vista, 120 se declararam indígenas. O campus da Zona Oeste registrou 15 dos 511 discentes, e Novo Paraíso um entre os 427.
Os números são considerados positivos pela reitora, mas ela ressalta que o desafio de ampliar as vagas e a oferta de cursos está nos constantes cortes de recursos. “Estamos nos esforçando para manter o acesso e a permanência desses alunos. Considerando que nosso estado é constituído por várias etnias em diferentes comunidades, isso requer um olhar mais atento no aporte financeiro para a manutenção da política educacional porque o nosso aluno tem um custo mais alto”, afirmou.
A reitora citou o exemplo de Amajarí, que mantém uma turma de Agropecuária exclusiva para estudantes da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol.
Para ajudar na elaboração e execução de políticas de educação indígena, o IFRR conta com o Comitê Gestor de Políticas de Educação Escolar Indígena. Conforme a presidente do colegiado, Mariana Lima da Silva, a criação do grupo é resultado das solicitações de oferta de cursos técnicos pelas comunidades indígenas e da necessidade de amparo legal na execução de práticas pedagógicas.
Ao comitê compete articular, planejar e definir as políticas para a educação indígena em nível institucional. O colegiado é espaço ideal para se ouvirem as demandas de líderes e comunidades indígenas. Além disso, por causa de sua composição e finalidade, o espaço é destinado a analisar e desenhar a operacionalidade das políticas voltadas aos povos indígenas.
Bolsa ajuda na permanência de 41 indígenas
O Instituto Federal de Roraima tem atualmente 41 alunos indígenas atendidos pelo programa do governo federal Bolsa Permanência, sendo 18 no Campus Boa Vista e 23 no Campus Amajari. A instituição aderiu ao programa em 2016.
A bolsa é concedida a estudantes matriculados em instituições federais de ensino superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica e a alunos indígenas e quilombolas.
Para a acadêmica do curso de Aquicultura do CAM Geovana Santana Santiago, 25, da Comunidade Indígena do Guariba, esse auxílio é fundamental. “Pra gente que estuda no período da tarde é importante a bolsa, que, se não houvesse, eu já teria desistido, porque não teria como me manter”, afirmou.
A presidente da Comissão Multidisciplinar de Acompanhamento do Bolsa Permanência do Campus Boa Vista, Ana Aparecida Vieira de Moura, destaca a importância do auxílio. “Temos vários alunos indígenas, e muitos abandonaram o curso por não ter condições de se manter na cidade estudando, e a bolsa veio para ajudar nessa permanência”, afirmou.
SABERES INDÍGENAS
Mais de 300 professores indígenas beneficiados
Em funcionamento em Roraima desde 2014, o programa Saberes Indígenas na Escola (SIE) já capacitou 300 professores indígenas e está concluindo a editoração de materiais didáticos para o ensino da língua materna. Inicialmente deverão ser entregues 800 exemplares para pelo menos cinco etnias. Outras duas impressões devem ocorrer.
O SIE atende professores de comunidades de etnias como ingaricó, wai-wai, macuxi, taurepang e wapixana. A iniciativa é da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, do MEC, e, em Roraima, conta com uma rede coordenada pelo IFRR, da qual participam a Secretaria Estadual de Educação e as Universidades Federal e Estadual de Roraima.
Conforme explicou a coordenadora-geral do SIE e professora do IFRR, Roseli Bernardo, o programa visa democratizar o acesso à formação continuada dos professores indígenas de Roraima, especialmente dos atuantes nas séries iniciais da educação básica.
“Desde 2014, obtivemos êxito na formação continuada de 300 professores e na produção de materiais didáticos para o ensino de língua materna”, contou Roseli, ao falar sobre a editoração desses materiais. “Num primeiro momento, entregaremos 800 exemplares para cada etnia. Depois, duas outras editorações ocorrerão e daremos por encerrada essa etapa do programa, que tanto tem contribuído para a formação continuada e para o reconhecimento desses grupos pela sociedade”, concluiu Roseli.
183 mulheres indígenas atendidas pelo Mulheres Mil
Com o Programa Mulheres Mil, o IFRR leva, de norte a sul do estado, cursos de formação inicial e continuada (FIC) para mulheres de baixa renda, transformando seus múltiplos saberes, histórias, aprendizados e vivências em qualificação profissional. Desde a implantação, em 2008, até 2016, o instituto já formou mais de 900 mulheres no estado, sendo 183 indígenas.
A gestora do Mulheres Mil do IFRR, Natividade de Oliveira, relembrou que, entre os cursos ofertados nas comunidades indígenas para esse público, estão o de Padeiro, na Boca da Mata; o de Artesão de Artigos Indígenas, no Maturuca, o de Artesão de Pintura em Tecido, no Guariba, e o de Operador de Beneficiamento de Frutas e Hortaliças com ênfase em Pimenta, nas comunidades Três Corações, Ouro, Guariba e Mangueira.
“Isso totaliza 183 atendimentos focados nas mulheres indígenas e reflete a preocupação do instituto federal com a educação profissional alinhada à vocação econômica da região, o que permite a criação de alternativas para a inserção dessas mulheres no mundo do trabalho”, destacou a gestora.