Na edição de 23 de outubro de 1996 da FolhaBV, a confirmação sobre a morte de 32 bebês no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, no prazo de 20 dias, estampava a manchete do jornal. A diretora da maternida à época havia convocado uma coletiva de imprensa após a publicação da denúncia em primeira mão pela Folha.
Após um estudo epidemiológico, foi constatado que as mortes dos recém-nascidos foi provocada pela bactéria Acinetobacter calcoaceticus, que teria se alastrado e provocado um surto de infecção hospitalar. Na coletiva, a diretora, que foi exonerada após a repercussão nacional do caso, disse, ainda, que a maternida estava lotada e caminhava para o sucateamento por falta de recursos.
Na mesma edição, funcionários da maternidade denunciaram à FolhaBV que o espaço estava “sucateado e sofrendo pela falta de um sistema de limpeza adequado”. A imprensa havia sido proibida de registrar imagens da parte interna do hospital, mas a reportagem verificou inúmeros equipamentos quebrados amontoados nos corredores.
Há 28 anos, o índice de mortalidade era mais de três vezes maior do que o normal para a maternidade, que realizava cerca de 600 partos por mês. Antes, o índice apontava 25 mortes para cada mil nascidos vivos. Mas, segundo a Secretaria de Saúde (Sesau), durante o ocorrido, o número subiu para 80 mortes a cada mil nascimentos.
Atualmente, a maternidade segue funcionando em meio a polêmicas. Ao longo de três anos de reforma, com vários atrasos, a unidade funcionou no antigo Hospital de Retaguarda, que atendia pacientes com Covid-19, e recebeu o nome de “maternidade de lona” por causa da estrutura com tendas.
A maternidade foi reinaugurada em setembro deste ano, mas a previsão é que novas obras de ampliação sejam realizadas em breve, com previsão de término da nova reforma em 28 de julho de 2025.
Em 2023, o índice de mortalidade na maior maternidade de Roraima foi de 171 bebês mortos, o maior dos últimos dez anos e que supera, em quase 70%, o número registrado em 2022.
Outros destaques
Outros assuntos foram destaques na edição de 23 de outubro de 1996: assassinato de uma bancária, morta com cinco tiros pelo ex-marido no local de trabalho, concretagem das avenidas Ville Roy e Glaycon de Paiva, que estavam danificadas, a informatização e a interligação via rede de computadores dos centros de saúde da capital.
O acervo histórico da FolhaBV está disponível na Biblioteca Nacional desde 2020. Esse foi um trabalho de quatro anos do Núcleo de Pesquisa Semiótica da Amazônia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), coordenado pelo professor Dr. Maurício Zouein.
O que aconteceu em 1996
À época, o estado era governado por Neudo Campos, enquanto a capital era administrada pela ex-prefeita Teresa Surita, que estava no último ano do mandato e seria substituída pelo brigadeiro Ottomar de Souza Pinto no ano seguinte, após as eleições municipais de 1996.
Na televisão, os noveleiros acompanharam o “Rei do Gado”, “O Fim do Mundo” e “Vira Lata”. Já na música, tivemos grandes lançamentos, como “Wannabe”, das Spice Girls, “It´s All Coming Back To Me Now”, de Céline Dion, “Garota Nacional”, do Skank, e “Estou Apaixonado”, de João Paulo e Daniel. Além disso, foi em 1996 que Michael Jackson veio ao Brasil para gravar o icônico clipe de “They Don´t Care About Us”, na Bahia e no Rio de Janeiro.
Alguns das produções cinematográficas lançados naquele ano foram a animação infantil “O Corcunda de Notre Dama”, o clásico “Matilda”, além do primeiro filme da série Missão Impossível, com o ator Tom Cruise.
Entretanto, o Brasil e o mundo tiveram grandes perdas, como os Mamonas Assassinas, que sofreram um trágico acidente aéreo, o cantor e compositor Renato Russo, vítima de complicações da Aids, o rapper Tupac Shakur, e várias outras lendas.
Outra curiosidade de 1996 foi a aparição de um suposto alienígena no Sul de Minas Gerais, o ET de Varginha. Naquele ano, também aconteceram os Jogos Olímpicos em Atlanta, nos Estados Unidos, e o futebol feminino foi incluso pela primeira vez na grade de modalidades esportivas do evento.