O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) publicou na Revista da Propriedade Industrial, em 13 de agosto de 2024, o primeiro registro de Identificação Geográfica (IG) do estado de Roraima. A comunidade indígena Raposa I, renomada por suas tradicionais panelas de barro, recebeu o registro na categoria de Indicação de Procedência.
A Comunidade Raposa I está situada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no município de Normandia, Roraima. Com essa certificação, o Brasil alcança o total de 127 IGs, das quais 89 são Indicações de Procedência (IPs) nacionais e 38 Denominações de Origem, sendo 28 brasileiras e 10 estrangeiras.
Enoque Raposo, coordenador de Turismo da Comunidade Raposa I, ressaltou a relevância desse reconhecimento para fortalecer a importância cultural das panelas de barro na região. Ele mencionou o apoio de diversas instituições, como o Sebrae Roraima, o Governo do Estado, a Prefeitura de Normandia, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas.
Bruno Muniz de Brito, diretor do Departamento de Turismo da Secretaria de Cultura e Turismo, afirmou que esse registro é um marco importante para o etnoturismo na região, fruto de ações de capacitação e desenvolvimento iniciadas em 2019.
Para o reconhecimento da IG, foram apresentados documentos que comprovam a ancestralidade e a notoriedade da produção de panelas de barro na região, com evidências históricas datadas do século 19. A arte de confeccionar essas panelas é um conhecimento passado de geração em geração, com profundas raízes culturais e espirituais na comunidade.
A Revista Xapuri Sócio Ambiental, que contribuiu para a certificação, destacou que a produção dessas panelas vai além da simples cultura material, envolvendo aspectos sagrados e espirituais, como a colheita da argila com a permissão da “Vovó Barro”, um espírito da natureza.
Além disso, uma tese de doutorado que aborda as tradições e o processo de produção das panelas de barro na Comunidade Raposa I foi citada como referência. O estudo explora a relação cultural, social e cosmológica que molda a vida na região, com destaque para a produção manual das panelas, que é tradicionalmente uma atividade feminina, conhecida por gerar peças com alta resistência térmica, capazes de suportar temperaturas de até 1000ºC.