Se você é de Boa Vista, provavelmente já viu ou ouviu falar da famosa ‘casa avião’, que está localizada na rua Dr. Arnaldo Brandão, no bairro São Francisco. Mas você conhece a história por trás dessa atração, que já ganhou destaque nacional? O criador dessa obra, Sinval de Freitas Oliveira, morreu aos 86 anos, no último domingo (18). Para compartilhar um pouco da trajetória dele, a Folha conversou com sua filha, Simone Renate, que revelou curiosidades sobre Sinval e detalhes dessa construção única.
Natural da Paraíba, Sinval mudou-se para Roraima em 1967, quando ainda era Território do Rio Branco, e aqui se estabeleceu, casou e teve quatro filhos: Sidney da Silva Oliveira, Simone Renate Oliveira Palhares, Silvio da Silva Oliveira e Sérgio da Silva Oliveira.
Com apenas a quarta série primária concluída, Sinval tinha o grande sonho de ser piloto, mas não pôde realizá-lo. Ele teve, então, a ideia de criar uma casa com a réplica em concreto de um Concorde, um dos dois únicos aviões supersônicos a operar comercialmente entre 1965 e 1978. “Apesar do sonho, ele tinha que sustentar a família, tinha que trabalhar e não tinha o estudo para ser piloto. Foi então que, depois de muitos anos, ele teve a ideia de fazer o Concorde, que ele achava muito lindo”, relembrou Simone.
“Ele começou a construir a casa com a ideia de que, um dia, seria uma clínica, com consultórios e suítes. Nós, seus filhos, fomos seus ajudantes na construção. Fazíamos a massa, levávamos tijolos, participávamos de cada etapa”, contou Simone.
“Tudo aqui foi feito por nós, com suas próprias mãos. Ele era um homem que preferia fazer tudo sozinho, mesmo quando envelheceu e a saúde começou a falhar”, explicou Simone. No entanto, a casa nunca foi totalmente concluída.
Sinval se separou da esposa e os filhos cresceram e formaram suas próprias famílias. “A gente foi construir nossas vidas e ele foi ficando. Ele era um homem de muita opinião e preferia fazer tudo com as próprias mãos”, afirmou a filha.
Ultimos momentos
Em janeiro deste ano, os vizinhos flagraram seu Sinval no topo do avião pintando a obra. Infelizmente, o idoso se desequilibrou, caiu e quebrou um braço. Essa foi a última vez que ele modificou a casa.
Os últimos oito meses de vida do Sinval foram aos cuidados dos quatro filhos, e ele morreu em Manaus em decorrência de uma pneumonia. “Ele queria ser autossuficiente, mesmo envelhecendo, ele não aceitava ajuda. Por mais que a gente o visitasse, ele não gostava. E nos últimos oito meses, ele já estava um pouco debilitado, quando a gente o levou para casa dos filhos, para ficar um pouco com cada um. E, nesse último mês, com 86 anos, ele faleceu”, revelou Simone.
Apesar de inacabada e com aparência de abandono, Simone afirmou que o pai nunca passou necessidade. “As pessoas achavam que ele passava fome, que era abandonado, mas, na verdade, ele só queria viver do jeito dele, assim, desse jeito. As pessoas pensam que ele era um pobre coitado, mas o meu pai nunca foi um pobre coitado. Ele tinha diversas propriedades que ele alugava, então sempre foi uma escolha dele viver assim”, explicou.
Novos planos
Agora, depois da morte de Sinval, os filhos pretendem dar continuidade ao legado do pai. “A gente pretende fazer um projeto, ver com a prefeitura um fomento. Só que isso envolve muitas questões da casa, documentação que a gente tem que ver. Mas é uma coisa que a gente pretende fazer para manter a memória dele”, disse Simone.
“Meu pai não pôde ser um piloto de avião, mas tinha um avião em cima da casa. E como ele dizia: ‘Um sonho não tem preço, o importante é que o ovo seja de águia´”, concluiu.