Saúde e Bem-estar

Mais de 110 casos de câncer no colo do útero foram registrado em 3 anos

Doença é causada pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano, o HPV. Casos podem ser identificados por meio do exame preventivo.

Aos seis meses de gestação, a jovem Ramine Damasceno da Silva, de 22 anos, recebeu uma notícia que a deixou assustada e com medo pelo filho: um câncer no colo do útero. Assim como ela, outras 113 pessoas receberam o mesmo diagnóstico entre 2020 e outubro de 2022, segundo levantamento da Secretaria de Saúde, a pedido da FolhaBV.

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano, o HPV, chamados de tipos oncogênicos, conforme o Ministério da Saúde. Neste mês, a campanha “Janeiro Verde” visa levar conscientização sobre a doença.

“Depois de passar por uma internação de 21 dias na maternidade, começou um processo de acompanhamento comigo e com o bebê. Graças a Deus ele nasceu de parto cesáreo e apesar de eu ainda grávida fazer duas sessões de quimioterapia, ele nasceu super saudável, não podendo apenas mamar em meu peito”, contou Ramine.

O diagnóstico da jovem ocorreu em 2021, ano que foram registradas 22 pessoas em tratamento contra a doença em Roraima. O maior número, foi em 2020, com 54. Já em 2022, foram contabilizadas 37, até 31 de outubro.

A infecção genital por esse vírus é muito frequente e na maioria das vezes não causa doença. Em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer, que pode ser descoberto por meio do exame preventivo.

O câncer no colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população que possui órgãos reprodutores femininos, atrás do câncer de mama e do colorretal. Também é a terceira causa de morte por câncer no Brasil.  

Depois do parto, Ramine compartilha que iniciou “uma batalha” para fazer a cirurgia de histerectomia total, procedimento em que é realizada a remoção do útero e do colo do útero. Com uma enorme fila no Sistema Único de Saúde (SUS) e um tumor cada dia maior, ela, a família e amigos realizaram campanhas para arrecadar dinheiro e realizar a cirurgia em um hospital particular, que ocorreu em 30 de julho de 2021.

Após a cirurgia, Ramine precisou fazer quimioterapia e radioterapia, este último tratamento, porém, não era ofertado no estado. Por conta disso, ela viajou para Manaus, onde ficou por quatro meses. Lá, ela diz que não teve “dúvidas de que Deus realmente existia”, ao receber ajuda de conhecidos e desconhecidos em momentos de aperto financeiro.


Ramine Damasceno, de 22 anos, durante tratamento em Manaus – Foto: Arquivo Pessoal

“Não recebia a ajuda de custo do governo, por qual motivo, eu não sei. Foi bem difícil lá, pois eu recebia apenas meu auxílio-doença do INSS que era bem pouco para pagar estadia, transporte e comida. Por isso, digo que Deus foi meu alicerce em quatro meses que passei lá. […] Eu nunca fui de frequentar uma igreja, mas sempre fui apegada a Deus, sempre mantive minha fé em Deus. E foi nesse processo que Deus provou para mim que ele existia”, detalhou.

Após o tratamento no Amazonas, Ramine conta que recebeu os valores do governo referente aos meses que passou fora do estado. Atualmente, ela diz que se sente bem e os exames não apontam nenhuma alteração. Mãe de uma menina de 9 anos, ela diz que tem redobrado os cuidados com a filha.

“Hoje eu me sinto bem, preciso fazer acompanhamento de três em três meses com o médico. Graças a Deus os exames recentes não deram nada e eu digo que estou curada, eu acredito assim. Já voltei a trabalhar também, os cuidados com o bebê estão bem tranquilos com a ajuda da família”, complementou.


Ramine com o marido e filhos, após o fim do tratamento. Ela diz que já se sente bem e voltou a trabalhar – Foto: Arquivo Pessoal

Tratamento em Roraima

Os tratamentos de câncer no colo do útero e outras neoplasias para adultos acima de 18 anos, são realizadas na Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon-RR), principal referência do estado para o tratamento de pacientes com câncer.

A unidade é credenciada pelo Ministério da Saúde, oferecendo tratamento clínico, cirúrgico e quimioterápico para todos os tipos de neoplasia. Dispõe de equipe multidisciplinar, com cerca de 80 profissionais, oferecendo 31 diferentes serviços em diversas especialidades, desde o tratamento médico ao atendimento psicológico e terapêutico, atendendo assim a todas as necessidades do paciente.

Conforme a Sesau, com a apresentação de exames, um especialista passa a fazer o acompanhamento do paciente, de acordo com o tipo de câncer que ele precisará tratar. Feito a análise do caso, o mesmo contará com toda a estrutura necessária para garantir o melhor tratamento para a doença.

“A duração do tratamento de um paciente oncológico varia de acordo com a neoplasia e objetivos do tipo de procedimento do qual ele será submetido, podendo variar entre três a seis meses”, complementou a Sesau.