Cotidiano

O que falta esclarecer sobre as mortes na Terra Yanomami um mês depois

Em 30 de abril, quatro morreram em confronto com a PRF e IBAMA. Sequência que encerrou com 14 mortos, teve como primeira vítima o agente de saúde Ilson Xirixana, assassinado em 29 de abril.

Há exato um mês, quatro homens morriam em confronto durante ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), na região da Comunidade Uxiú, Terra Yanomami. Nesta área, um dia antes, o agente de saúde, Ilson Xirixana, 36 anos, foi assassinado em um ataque armado.

Nos dias seguintes, mais nove corpos foram encontrados também em Uxiú. Um deles pertencia a uma mulher, com sinais de violência sexual e enforcamento. Um mês após, questões como a identificação das vítimas e causas de parte destas mortes ainda seguem sem respostas.

Nesta reportagem, a Folha faz um levantamento sobre o que sabe e o que falta ser esclarecido a respeito do andamento da investigação sobre as 14 mortes na Terra Yanomami.

1. Identificação das vítimas

Oficialmente, a única vítima que teve o nome divulgado foi o agente de saúde, Ilson Xirixana. Além dele, as autoridades policiais informaram somente que um dos mortos no confronto com a PRF e IBAMA era um foragido da Justiça do Amapá, e que o 14º corpo pertencia a uma mulher.

A FolhaBV procurou a Polícia Federal, ao longo do mês de maio, para obter informações sobre a identidade das vítimas, mas não obteve respostas. A reportagem também fez a solicitação por meio da Lei de Acesso à Informação, mas foi informada de que a PF não fornece informações sobre investigações policiais por este canal.

A Polícia Civil, responsável pelo Instituto Médico Legal (IML) também foi procurada. Mas, por meio de nota, o governo estadual disse que “não cabe ao Executivo estadual relatar sobre quaisquer informações sobre estas investigações” e que “toda e qualquer informação só pode ser divulgada pela Polícia Federal”.

2. Causa das mortes

A morte de Ilson foi causada por arma de fogo. Ele e outros dois homens da comunidade, foram feridos durante um ritual fúnebre chamado “reuahu”, que é o processo de chorar os mortos. Esta informação foi divulgada pela Hutukara Associação Yanomami em 1º de maio.

Já os mortos na ação da PRF e Ibama, a nota da corporação informa que “os policiais revidaram e atingiram quatro atiradores, que não resistiram aos ferimentos”. Com os atiradores, a Polícia encontrou um arsenal de armas, com fuzil, três pistolas, sete espingardas e duas miras holográficas, além de munição de diversos calibres, carregadores e outros equipamentos bélicos: rádios, celulares, capa de colete, coldre de pistola e coldre de revólver.

Sobre os oito corpos encontrados em Uxiú, a PF não deu quaisquer detalhes sobre como as vítimas podem ter sido assassinadas. Apesar do 14º corpo ter sido encontrado com sinais de enforcamento e abuso sexual, a real causa da morte não foi divulgada.

3. Autoria e motivação

Segundo a Hutukara, Ilson e os outros dois indígenas foram atacados por seis garimpeiros, que estavam em um barco e embriagados. Já as oito mortes, conforme divulgado pelo Jornal Folha de São Paulo, podem ser uma retaliação pelo ataque à comunidade durante a cerimônia fúnebre. Nenhuma linha de investigação foi divulgada pela PF.