Cotidiano

Hekurari: Indígenas ganharam ouro por silêncio sobre morte de menina

Coordenador de movimento garimpeiro rebate acusações e pede investigação do Ministério Público Federal sobre as declarações do presidente do Condisi-YY

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Junior Hekurari Yanomami, divulgou nota nesta sexta-feira (29) em que acusa garimpeiros de dar cinco gramas de ouro para indígenas da comunidade Aracaçá silenciarem sobre a denúncia de estupro seguido de morte de uma adolescente de 12 anos, e do desaparecimento de uma criança de três anos no rio Uraricoera, na região do Waikás, no território Yanomami, em Roraima.

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A publicação foi feita um dia depois que a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) informaram que não encontraram indícios sobre os crimes na Terra Indígena.

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Segundo Hekurari, quando as equipes dos órgãos chegaram à localidade, na última quarta-feira (27), a comunidade estava em chamas, sem a presença de moradores indígenas, os quais só apareceram 40 minutos depois após o pouso somente para resgatar materiais de garimpeiros.

“Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 05g de ouro dos garimpeiros para manter o silêncio”, diz a nota.

Os indígenas, segundo o presidente do Condisi-YY, relataram que outros crimes já aconteceram na região. “Recentemente um recém-nascido foi levado para capital de Boa Vista por um garimpeiro que alegava ser pai da criança”, diz.

“Percebe-se através dos vídeos que, esses indígenas foram coagidos e instruídos a não relatar qualquer ocorrência que tenha acontecido na Região, dificultando a investigação da Policia Federal e Ministério Público Federal que acabaram relatando não haver qualquer indício de estupro ou desaparecimento de criança”, prossegue a nota.

Em seguida, Hekurari relatou que, na manhã do dia seguinte, as equipes voltaram à comunidade, mas os indígenas haviam deixado o local, onde havia apenas marcas de queimada. O presidente do Condisi-YY relatou, ainda, que nesta sexta-feira (29), líderes indígenas explicaram, com base em costumes e tradições, que após a morte de um ente querido, a comunidade em que a pessoa morava é queimada e todos deixam o local.

“Também analisaram a possível marca onde o corpo foi cremado, e constatou-se que ocorreu um óbito, porém, os Indígenas da região se mantiveram em silêncio por receio de que sofressem qualquer tipo de ataque dos invasores”, diz.

“Esclarecemos que continuaremos a investigar e cobrar que os órgãos competentes atuem para retirada imediata dos criminosos que estão no Território Indígena Yanomami”, finaliza a nota.

Coordenador de movimento garimpeiro rebate

O coordenador do movimento Garimpo é Legal, Rodrigo Cataratas, disse que procurou o MPF para pedir apuração das declarações feitas na nota divulgada por Júnior Hekurari.

“Na realidade, é o relato dele. Já ficou demonstrado pela Polícia Federal, Funai e Dsei [Distrito Sanitário Especial Indígena] Yanomami que não encontraram os indícios de assassinato e estupro dessa indígena. Viemos ao Ministério Público para pedir que eles investiguem. Porque o Júnior Yanomami segue fazendo afirmações mentirosas, fake news”, declarou.