Política

Filha de senador fala de omissão em vídeo; mãe nega política em denúncia

Adolescente rebateu trechos de vídeo usado pelo parlamentar para narrar o dia do suposto crime

A filha de 17 anos do senador Telmário Mota (Pros) rebateu nessa terça-feira (23) as alegações do candidato a reeleição sobre a acusação de tentativa de estupro, declarou que o vídeo apresentado pelo político para rebater e negar as declarações da adolescente à Polícia Civil e à imprensa local foi cortado e omitiu um dos momentos que narra o dia do suposto crime. Ela prometeu apresentar o material sem cortes, assim que obtê-lo.

“Achei absurdo [o vídeo]. A gente vai puxar as câmeras novamente com as imagens completas, inclusive a de que ele entra na casa pra usar o banheiro, que ele disse que não entrou pra usar”, declarou sobre a denúncia, feita no último dia 14 por, supostamente, o senador ter passado as mãos em suas partes íntimas e que ele estaria bêbado.

A adolescente disse que pensou em não denunciar o pai, mas foi convencida por familiares do namorado a registrar boletim de ocorrência contra ele após ser questionada sobre o que aconteceu ao chegar na casa do parceiro. “Eu não ia. No dia mesmo, chorando em desespero, falei não, não, não, não, mas minha cunhada já tinha ligado pra polícia”, revelou, dizendo que não pretendia tornar públicas as denúncias.

Por sua vez, a mãe da filha do parlamentar negou que a denúncia tenha sido motivada por razão política, a mando dos adversários dele nas eleições deste ano. “É mentira. Não tenho vínculo nenhum com político nenhum. Não trabalho pra adversário. Pra te falar a verdade, o único candidato que eu tenho é pra deputado estadual. Mas os adversários dele eu não tenho nenhum vínculo. Nem pra senador eu tinha, nem tenho pra quem votar”, disse.

“Eu tinha entregue o presente do Dia dos Pais, que foi uma caneca com a nossa foto”, lembrou a garota. “Quase todo dia eu choro, pra falar a verdade. Choro de passar mal, querer provocar. Depois que aconteceu, fiquei uma semana sem ir pra escola, só em casa, trancada”, declarou ela, que passou a ser assistida pelo Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) após o suposto crime.

Desde que o caso tornou-se público, Telmário Mota não fala com a filha gerada fora do casamento, nem com a mãe dela.


Filha rebate trechos de vídeo divulgado pelo senador (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

No dia 17 de agosto, a juíza Graciete Sotto Mayor Ribeiro, da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, proibiu o senador, inclusive por meio de intermediário, de se aproximar da filha e familiares em um raio de 500 metros. Ele também não pode se comunicar com ela e a família por qualquer meio. O pedido de medidas cautelares foi feito pela delegada Elisa Alice Lopes Reis Mendonça, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (NPCA), e pelo Ministério Público.

A magistrada ainda ordenou inquérito policial para investigar o parlamentar e defendeu a competência do juízo local para apurar o crime, por não possuir relação com o mandato do senador, conforme entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal). O caso corre em segredo de justiça por envolver adolescente.

Filha rebate trechos de vídeo usado para narrar o dia do suposto crime

Sobre o vídeo apresentado por Telmário Mota para narrar o dia da suposta tentativa de estupro, a filha negou o que foi narrado no primeiro ponto: de que ela teria dito à imprensa local que o pai teria a buscado em casa para levá-la a um lago. A adolescente disse que, na verdade, foi buscada na casa do namorado. “Não cheguei a falar em momento algum que ele me buscou em casa”.

O vídeo prossegue narrando que a filha, ao entrar no veículo, informou que haviam familiares do namorado conversando no local e que “segundo relata o senador, ela pediu pra comprar alguns itens na loja de conveniência perto dali. Telmário relata que foi até a loja e conforme imagens da câmera de segurança, após 12 minutos, os dois já haviam retornado à casa”.

Terceiro trecho do vídeo relata que “após retornar a casa do namorado, Telmário desceu do veículo e conforme imagens, dois minutos após a chegada, se encontrou com um colega na frente da residência. Os dois ficaram conversando por um tempo”. “Ele tá falando depois que a gente voltou. Não foi depois que a gente voltou. Foi assim que ele chegou a primeira vez”, relatou, dizendo que o vídeo foi editado e omite a parte em que ele teria entrado no banheiro da residência.

“Foi a primeira vez que a gente foi, que é o que ele mostra no vídeo. É a segunda vez que ele disse. Eu disse que queria sair pra comer, ele disse que queria beber. Então, minha sogra e minha cunhada já estavam bebendo, falei: ‘é vamos voltar pra lá o senhor bebe com elas. E eu fico só por lá mesmo, porque eu não bebo’. Depois, a gente foi, e meio termo do caminho, voltamos, compramos duas caixinhas de cerveja, já pra voltar lá pra ele beber por lá, ele ficar lá, eu ia pedir um lanche pra mim, alguma coisa, mas a gente chegou lá, foi quando ele saiu do carro pra usar o banheiro, ele falou que não desceu do carro pra usar o banheiro só pra falar com um amigo dele que tinha parado lá na frente, mas isso já foi a primeira vez. Ele já diz no vídeo que foi a segunda vez. Então a gente quer puxar as câmeras, porque, fala que ‘ah depois de 20 minutos, voltou e deixou ela’. Não. Depois que a gente comprou as caixinhas pra voltar pra lá, a gente ia pra tal suposta reunião no Paraviana, e acabou que a gente não foi”, relatou.

O quarto trecho rebate que Telmário não gritou para que ela entrasse no carro do pai e defende que a filha teria entrado no veículo por sua própria iniciativa. “Não tem áudio. Se tivesse, teria visto. E todo mundo que estava lá escutou ele falando”, disse a adolescente.

A filha do senador rebate o quinto trecho, que contesta que o senador tenha posse ou porte de armas. “Às vezes, quando eu saía com ele e com a amante, ele sempre tinha uma arma no console do carro. Tanto que já cheguei a pegar a arma pra ver o que… ‘nossa, uma arma’”.

O penúltimo trecho do vídeo sugere que a filha estava “calma” em uma conveniência para contestar que ela estaria assustada em virtude da suposta tentativa de estupro. “Obviamente eu tava calma. Eu ia entrar em desespero de repente? O único desespero que eu teria entrado seria caso ele não me deixasse de volta, porque eu tinha preparado minha bolsa, e minha mão na porta do carro, pular do carro e fugir. Esse ia ser o meu único desespero”, disse.

As últimas imagens que constam no vídeo foram divulgadas pelo senador para mostrar que a adolescente estava na conveniência e com o celular no bolso. A intenção era reforçar que o parlamentar não teria tomado dela o aparelho para evitar pedido de socorro. “Ele pegou meu celular dentro do carro. E a última mensagem eu cheguei a mandar… mandei mensagem pra minha mãe: ‘socorro’. Foi a única também”.

“Só em mandar minha filha descer lá na conveniência e comprar uma bebida, já é errado. E mais errado ainda é o vendedor da conveniência ter vendido bebida para uma menor”, disse a mãe da garota.

A adolescente reiterou o que disse à Polícia Civil: que Telmário Mota teria pedido para não expor a situação.


Conversas entre mãe e filha no dia da suposta tentativa de estupro (Foto: Reprodução)

A mãe da filha do senador mostrou que, às 19h38 daquele 14 de agosto, recebeu um áudio do senador informando que a filha estava com ele. Às 19h44, a filha escreveu “Mae” à genitora, que perguntou às 19h46 “o que foi”.

Nesse momento, a mulher estava na igreja. Às 19h54, a menina escreve: “Socorro”. Em seguida, a mãe dela liga três vezes, sendo uma às 19h57, outra às 20h02 e a última às 20h08. “Aí logo em seguida que eu vi o socorro dela. E foi quando eu saí da igreja”, disse a mãe.

“E ela ficou me ligando, ligando, e eu não tinha como atender. Porque o celular não estava comigo”, disse a garota sobre o pai ter lhe tomado o aparelho dentro do carro. “De toda forma eu estava ligando, pro dela e pro dele”, disse a mãe sobre o desespero.

Por áudio à mãe da adolescente, o namorado da garota disse às 19h36: “Aconteceu alguma coisa, ela meio que disse que ele abusou dela, tá abusando dela, sei lá. E ele levou ela, já. Ela falou pra ele que queria ficar aqui e ele não deixou. Ele levou ela”.