MANAUS-BOA VISTA

Governo Lula autoriza obras de Linhão e retomada da energia da Venezuela para RR

Construção das linhas de transmissão está prevista para terminar em setembro de 2025, possui um investimento de R$ 2,6 bilhões e deve gerar cerca de 11 mil empregos

Governo Lula autoriza obras de Linhão e retomada da energia da Venezuela para RR

O ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, assinou nesta sexta-feira (4), em Parintins (AM), a ordem de serviço que autoriza o início das obras do Linhão de Tucuruí. As linhas de transmissão irão interligar Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e prometem acabar com o isolamento elétrico do Estado.

A construção está prevista para terminar em setembro de 2025, possui um investimento de R$ 2,6 bilhões e deve gerar cerca de 11 mil empregos diretos e indiretos. O Linhão substituirá o atual sistema elétrico – composto por usinas termelétricas movidas a óleo diesel, gás natural e biomassa, e uma pequena central hidrelétrica – por um modelo de energia confiável, limpa e renovável.

Segundo o governo federal, com o andamento das obras, serão atualizados os estudos de planejamento da operação, considerando o balanço da oferta e da demanda. Estimativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aponta que, inicialmente, deve haver uma redução do custo variável de operação das usinas termelétricas locais de R$ 200 milhões por ano.

“Mais de 50 mil pessoas beneficiadas, é substituição de termelétricas a diesel por energia limpa e renovável. A conta de luz vai baixar. Vamos economizar mais de R$ 1 bilhão por ano”, afirmou Silveira.

“Fico muito feliz de estar aqui com o presidente Lula em mais essa oportunidade. Presidente tem olhado com muito carinho para as demandas do Estado de Roraima”, discursou o governador Antonio Denarium (Progressistas).

Autoridades presentes com Lula em Parintins (Foto: Ricardo Botelho/MME)

Além de Denarium, estavam no evento o prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique (MDB), os deputados federais Duda Ramos (MDB), Helena Lima (MDB) e Gabriel Mota (Republicanos), e o presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), deputado Soldado Sampaio (Republicanos).

Impasse do Linhão de Tucuruí

A construção das linhas de transmissão pelo consórcio TNE (Transnorte Energia) foi motivo de um impasse de mais de uma década, envolvendo o governo federal e os indígenas Waimiri Atroari, também conhecido como Kinja, que cobravam ser consultados sobre o projeto. Várias decisões judiciais, solicitadas por órgãos federais ao longo dos últimos dez anos, barraram o empreendimento.

Após muita negociação, em maio de 2022, cerca de 450 lideranças Waimiri-Atroari aceitaram a proposta do consórcio e do governo federal para a construção passar pelo território indígena. Na ocasião, os entes apresentaram um plano básico ambiental com 37 impactos à terra indígena, dos quais 27 são irreversíveis. Com isso, o então presidente Jair Bolsonaro oficializou, por meio de decreto, a compensação de R$ 90 milhões aos Kinja.

Em setembro do mesmo ano, um acordo judicial encerrou as ações civis públicas relacionadas ao licenciamento ambiental, o que permitiu o andamento das obras, cuja previsão é terminar em 36 meses.

O Linhão terá 715 quilômetros de extensão, sendo 425 em Roraima e 290 no Amazonas, e será construído às margens da rodovia federal BR-174, que liga Boa Vista a Manaus. Cento e vinte e dois quilômetros das linhas de transmissão irão passar pela Terra Indígena, situada entre os dois estados.

O projeto foi reconhecido como de interesse nacional pelo Conselho de Defesa Nacional (CDN), qualificado como estratégico pela Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (SPPI) e a interligação foi reconhecida como de interesse estratégico pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O MME analisa que o Linhão vai reduzir os custos da energia roraimense – atualmente baseada em termelétricas, entre as que produzem energia limpa -, divididos entre os consumidores brasileiros.

O Governo Denarium avalia que a interligação de Roraima ao SIN vai reduzir a conta de energia e culminar na atração de novos investidores, indústrias, geração de emprego e crescimento econômico do Estado.

Em seu site oficial, a TNE informa que, durante a fase de implantação do empreendimento, espera a criação de cerca de três mil empregos diretos, distribuídos entre canteiros de obra e escritórios, além de indiretos decorrentes da cadeia produtiva necessária para fornecer os insumos a serem utilizados.

O consórcio prevê cerca de 1.450 torres metálicas treliçadas, tipo autoportantes e estaiadas, com altura para que os cabos fiquem acima da copa das árvores. Aproximadamente 250 torres vão passar pela Terra Indígena Waimiri-Atroari.

Linhão de Guri

No evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o decreto que retoma o fornecimento elétrico para Roraima por meio do Linhão de Guri, na Venezuela. Desde 2019, o Estado não é abastecido pelo País vizinho em virtude de vários apagões ocorridos na época. O governo federal sob Lula avalia que essa medida vai garantir energia barata e sustentável para o Estado e o Brasil.

A conexão internacional entre Brasil e Venezuela poderá ser explorada em breve, favorecendo, principalmente, o atendimento eletroenergético de Roraima, ainda não interligado ao SIN.

O texto, que deve ser publicado ainda nesta sexta, prevê a possibilidade de importação de energia para atendimento aos sistemas isolados, com o objetivo de reduzir os dispêndios da Conta de Consumo de Combustível (CCC), orçada em R$ 12 bilhões para 2023. Ela representa quase 35% da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). A gradativa substituição do sistema acarreta redução nos custos da CCC – pago por todos os consumidores de energia elétrica no Brasil.