Política

Bolsonaro cancela viagem à Guiana para ir ao enterro da mãe

Jornal guianense cita Bolsonaro como persona non grata ao país e critica visita, que aconteceria nesta sexta-feira, 21

Com o falecimento da mãe, Olinda Bonturi Bolsonaro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vai retornar ao Brasil e não se reunirá com o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, para estreitar as relações entre os dois países.

Brasil e Guiana mantêm relações amistosas e, nos últimos anos, o intercâmbio bilateral, mais do que dobrou, alcançando os UU$ 118,6 milhões. O presidente visitaria o Suriname e a Guiana nesta sexta-feira (21) para conversar sobre cooperação econômica após as recentes descobertas de petróleo e gás pelos países vizinhos, informou o Ministério das Relações Exteriores.

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“A viagem presidencial ocorre no contexto do fortalecimento das relações bilaterais, em cenário de retomada do diálogo estratégico entre os governos e de perspectivas de maior desenvolvimento econômico e social no Suriname e na Guiana, impulsionado pelas descobertas recentes de petróleo e gás”, acrescentou o comunicado.

Governador de Roraima na comitiva

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação do Governo de Roraima, para saber como ficou a agenda oficial de Antonio Denarium (PP) e a pasta informou que ele está na comitiva do presidente Jair Bolsonaro em Suriname e participou de reuniões de trabalho em Paramaribo.

“Foi boa a receptividade do presidente do Suriname, Chandrikapersad Santokhi, e a viagem fortalece a integração comercial entre os dois países, que continuam em crescimento e abrindo mais portas internacionais para os produtos roraimenses”.

A visita oficial à República Cooperativa da Guiana, que ocorreria nesta sexta-feira, foi cancelada em função do falecimento da mãe do presidente e da necessidade de retorno dele ao Brasil na manhã de hoje.

‘Persona non grata’

A visita de Bolsonaro ao país vizinho não era bem vista por algumas pessoas. Um jornal guianense informou que foi feito um abaixo-assinado para registrar a oposição à visita oficial do presidente do Brasil à Guiana e ao plano do governo de fortalecer os laços com o regime de Bolsonaro, devido às visões e políticas racistas e neofascistas. De acordo com o jornal, Bolsonaro criou um cenário de pesadelo para indígenas e afro-brasileiros.

“O Brasil abriga a segunda maior população de africanos do mundo depois da Nigéria, com 55% da população sendo negra ou mestiça. Organizações africanas de direitos humanos no Brasil há muito denunciam o que chamam de “genocídio negro” do Brasil, apontando a violência e a repressão perpetradas diretamente contra os africanos pelo Estado, na forma de violência policial e encarceramento em massa”.

Embora esses problemas existam desde o início do Brasil, desde que Bolsonaro chegou ao poder em outubro de 2018, o racismo e a repressão à população indígena e africana do Brasil aumentaram em um ritmo alarmante. Conforme a notícia veiculada na Guiana, o chefe do Executivo descreveu os indígenas como “parasitas”, caracterizou os afro-brasileiros como “gordos e preguiçosos”, alegando que “não fazem nada… formas eugenicamente concebidas de controle de natalidade. Ele se referiu aos migrantes do Haiti, África e Oriente Médio como “a escória da humanidade”, mesmo argumentando que o exército deveria cuidar deles, enquanto denunciava a assistência do governo passado aos países africanos.

O jornal cita, ainda, outras situações como garimpo, indígenas e outros temas e finaliza: “É este o tipo de regime com o qual nós na Guiana queremos estreitar os laços? Como descendentes de povos indígenas das Américas e africanos capturados na Guiana, e guianenses preocupados de todas as etnias, declaramos o presidente Jair Bolsonaro persona non grata e aproveitamos esta oportunidade para transmitir ao presidente Ali e seu governo que nunca cooperaremos ou apoiaremos o fortalecimento das relações entre Brasil e Guiana, enquanto durar o regime racista e neofascista de Jair Bolsonaro”.